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Archive for Março, 2017

No dia vinte e  três de março, no Centro Cultural de Belém,  foram entregues os Prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, que  contemplou o filme Cartas de Guerra de Ivo Ferreira com 9 das 21 estatuetas distribuídas,  entre as quais as de Melhor Filme e Melhor Realização. Esta obra que tinha 11 nomeações foi feita a partir da correspondência entre o escritor António Lobo Antunes e a primeira mulher, Maria José, quando esteve destacado em Angola, durante a Guerra Colonial: “Cartas da Guerra” deixa um retrato sobre “a maior tragédia portuguesa do século XX”, como o realizador disse à Lusa, quando a longa-metragem teve estreia em sala, em setembro do ano passado.

A memória da Guerra Colonial passa igualmente por “Estilhaços”, de José Miguel Ribeiro, que juntou o Prémio de Melhor Curta-Metragem de Animação, ao seu rol de distinções enquanto Balada de um Batráquio de Leonor Teles recebeu o Sophia de Melhor Documentário em Curta-Metragem. A Academia Portuguesa de Cinema distinguiu ainda o ator Ruy de Carvalho com o Prémio Mérito e Excelência, assinalando os seus 90 anos de vida e 75 de carreira assim como atribuiu os prémios Sophia Carreira à atriz Adelaide João e ao diretor de fotografia Elso Roque.

Quanto a estreias, começo com filmes de ficção científica com o interessante O Espaço Que Nos Une de Peter Chelsom, uma forma diferente e curiosa de abordar este género numa história de amor e de perda a partir da primeira missão de colonização do planeta Marte e das dúvidas e interrogações do primeiro humano nascido no planeta vermelho. Igualmente de ficção científica, o thriller espacial Vida inteligente de Daniel Espinosa remete-nos para a série de culto Alien e, por isso, aguarda-se a sequela desta obra claustrofóbica. A recolha de uma amostra do solo de Marte por um grupo de cientistas da estação espacial internacional conduz não só à primeira prova de existência de vida extraterrestre como também é o ponto de partida para momentos de tensão e um conjunto de acções violentas e sangrentas que levam a classificar esta obra também de terror.

Para os apreciadores de argumentos românticos e baseados em factos verídicos Um  Reino Unido de Amma Asante  a partir de factos ocorridos no final da década de 40 do século XX envolvendo  o casamento  do  príncipe herdeiro do Botswana, Seretse Khama  e  Ruth  Williams, britânica e branca. Um amor que causou grande polémica pois o casal embora exilado do Botswana  resistiu às  pressões  familiares e políticas,   numa época em que o colonialismo  e o apartheid sul africano dominavam, causando também solidariedade internacional. Quando o território se torna independente em setembro de 1966 Seretse Khama torna-se Presidente, cargo que ocupará até à sua morte em 1980.

Igualmente sobre relações amorosas e  desejo feminino  o filme  francês  Um Instante de Amor de Nicole Garcia baseado na obra homónima de Milena Agus com Marion Cotillard a brilhar no papel de uma mulher em conflito  e na  busca do amor  numa sociedade conservadora no  pós 2ª guerra Mundial. A Warner Bros. Pictures e Legendary Pictures e os japoneses da Toho recriam a origem do mítico King Kong  em  Kong: Ilha da Caveira numa emocionante e original aventura do realizador Jordan Vogt-Roberts . Neste filme a equipa de exploradores integra elementos ligados a departamentos governamentais e militares de que fazem parte os  protagonistas Brie Larson como fotógrafa, Tom Hiddleston  Samuel L. Jackson e John Goodman, nesta   nova versão de exploração numa ilha desconhecida do Pacífico. A aventura original envolvendo esta figura clássica data de 1933 e, embora ao longo dos tempos tenha tido várias  versões, o argumento baseia-se  sempre na oposição entre o avanço tecnológico e os seres de um mundo primitivo.

Outra adaptação, mas neste caso do clássico de animação de 1991, A Bela e o Monstro de Bill Condon é uma versão com modernos efeitos especiais digitais que partilham com os atores a composição das cenas. Sem caráter lúdico, o horror do Holocausto serve de base a uma obra cinematográfica em Negação de Mick Jackson a partir de factos reais sobre a disputa judicial envolvendo uma historiadora do Holocausto e um negacionista do mesmo.  Baseado no famoso livro “Denial: Holocaust History on Trial” que a historiadora norte-americana Deborah Lipstadt escreveu como ré no processo de difamação movido por David Irving que nega a existência do Holocausto. Com um excelente elenco é uma obra actual numa época em que vivemos com conflitos entre crenças religiosas e ideológicas esquecendo-se muitos factos históricos.

Também sobre memórias e resistência, temos a interessante obra do realizador brasileiro Kleber Mendonça Filho Aquarius, em que a veterana Sónia Braga interpreta uma viúva aposentada que recusa vender o seu apartamento lutando contra as pressões de que é vítima. Por fim, um divertido e comovente filme sueco nomeado para os Óscares de Melhor filme estrangeiro e de Melhor maquilhagem Um homem chamado Ove de Hannes Holm  a partir do best seller homónimo de Fredrik Backman.  Esta obra agradável consegue equilibrar situações de humor negro com os bons sentimentos de uma personagem que mantém as mesmas rotinas, zangas com os vizinhos e paixão pela mulher morta. É uma obra que enfatiza a importância da tolerância e da entreajuda na comunidade como forma das pessoas demonstrarem os valores e caráter que têm.

Luísa Oliveira

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Células transgénicas como alternativa às injeções de insulina

Diabetes mellitus e os seus dilemas   

Segundo a Federação Internacional de Diabetes, atualmente 415 milhões de pessoas são afetadas por  Diabetes mellitus, uma doença crónica onde a quantidade de glicose (açúcar) no sangue é muito elevada devido à incapacidade do pâncreas em produzir insulina (tipo I) ou, em certos casos, a produção não ser suficiente para a dieta excessiva de glícidos (açucares) e/ou o facto do organismo criar resistência contra a insulina  (tipo II) . Uma vez que a insulina tem como tarefa a entrada de glicose para as células, a ausência desta leva à acumulação de glicose no sangue – hiperglicemia. Esta pode ter como consequências mais graves ataque cardíaco, cegueira e amputação de membros.

polarization

Figura 1 – (A) Estado dos canais iónicos quando a membrana celular se encontra polarizada, ou seja, quando o meio extracelular está mais positivo que o intracelular. (B) Estado dos canais iónicos quando ocorre despolarização da membrana celular, isto é, quando há entrada de iões na célula e o interior desta fica mais positivo.

Embora a diabetes ainda não tenha cura, o correto controlo dos níveis de  glicemia, através da medicação, do cumprimento de dieta adequada, da prática de exercício físico pode prolongar a vida dos diabéticos.

Além dos riscos e consequências que a diabetes implica, o tratamento acarreta responsabilidades diárias devido à constante necessidade de controlo dos níveis de glicemia, o que leva à procura de novos tratamentos de forma a minimizar esse desconforto.

Um grupo de cientistas da ETH Zurich, apoiado pela programa European Union Seventh Framework veio ao encontro dessa necessidade e realizou uma investigação com o objetivo de inovar e facilitar o tratamento dos diabéticos, a partir de células transgénicas.

Como funcionam estas células?

A equipa utilizou uma linha de células dos rins, naturalmente sensíveis à glicose, e adicionaram-lhes novos canais de cálcio e um promotor sintético para o gene da insulina.

Em casos de valores normais ou inferiores de glicemia, o ião potássio sai continuamente da célula, pelo que a membrana celular fica polarizada (ver figura 1A).

Em casos de hiperglicemia, estas células transgénicas incorporam alguma glicose, que, ao ser convertida em ATP (ver fig. 2), bloqueia os canais de potássio. Dá-se então a despolarização da membrana (ver fig 1B), o que por sua vez provoca a entrada de cálcio. O aumento de cálcio no interior da célula ativa o promotor do gene da insulina, que vai resultar na sua expressão (ver fig. 3) ocorrendo assim a síntese de insulina.

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Figura 2 – Equação da respiração aeróbia. Através do processo da respiração celular aeróbia, que ocorre em maior parte na mitocôndria, a glicose é transformada em ATP, a molécula energética universal

Ratos diabéticos versus células transgénicas – o estudo   

Para testarem estas células transgénicas e a sua possível aplicação em doentes diabéticos, a equipa fez um estudo que consistiu na inserção das referidas células sob a forma de um implante imunoprotetor (não é rejeitado pelo corpo recetor) em ratos diabéticos tipo I e tipo II.

Os resultados do estudo mostraram que as células transgénicas não só restabeleceram a quantidade certa de insulina no corpo dos ratos diabéticos, como erradicaram quaisquer episódios de hiperglicemia, isto é, superaram o funcionamento das células pancreáticas saudáveis. Martin Fussenegger, líder da investigação, afirma: “É difícil perceber porque é que as nossas [células] são melhores do que algo que resultante de milhares de anos de evolução, (…)”[1]. E isto tudo sem nunca serem observados sintomas secundários de excesso de insulina.

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Figura 3 – Funcionamento das células HEK-293 transgénicas

Diabéticos e um prognóstico de esperança

Tendo em conta que uma em cada 11 pessoas a nível mundial têm diabetes, a investigação analisada tem uma elevada importância para a sociedade, pois, caso seja implementada e comercializada, facilitará os cuidados diários, causando um impacto a curto e longo prazo na vida do diabético.

Sandra Afonso e Bárbara Bessa, 12ºB

Referências bibliográficas:

[1] Devlin, Hannah. (8 dezembro 2016). New diabetes treatment could eliminate need for insulin injections. Acedido em 18 janeiro de 2017. Disponível em: https://www.theguardian.com/science/2016/dec/08/new-diabetes-treatment-could-eliminate-need-for-insulin-injections

Bibliografia:

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TEATRO

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“Da Montanha para o Livro” – João Garcia, todas as Alturas são boas para a Leitura

AEDS, 23 de março de 2017

O alpinista João Garcia, o 1º português a atingir o cume do Evereste (8.848m) e a ascender às 14 montanhas mais altas do mundo, com mais de 8.000m de altitude, sem auxílio de oxigénio artificial, relatou a sua experiência de vida em 4 livros:

  • A Mais Alta Solidão
  • Mais Além- depois do Evereste
  • 10 Passos para atingir o topo
  • 14# – Uma Vida nos Tectos do Mundo

O AEDS teve o privilégio e o prazer de o receber como convidado na Quinzena da Leitura. Neste encontro com alunos e professores do ensino básico e secundário das escolas de Vale Rosal e Daniel Sampaio, o alpinista falou de sucessos e insucessos, fundamentou as suas palavras com conhecimentos de geografia (relevo, clima, meteorologia), biologia (o corpo em altitude, congelamento, mal de altitude) e metodologia de treino. Falou da inteligência emocional, do racional e da tomada de decisões em situações limite. Falou das diferentes conceções do mundo na Europa e na Ásia. Falou das características que nos tornam mais fortes e que são imprescindíveis para que consigamos atingir o topo de qualquer projeto, seja o nosso Evereste um curso de engenharia, de turismo, ambiente, literatura ou desporto. Falou do que o motivou à escrita: a necessidade de clarificar realidades, de refletir em voz alta, de partilhar e agradecer um trabalho de equipa protagonizado por si. Falou da escrita como o modo de expressar um projeto de vida – 17 anos de paciência, determinação, trabalho, persistência, acreditando sempre que as 14 montanhas mais altas do mundo, um dia, poderiam também ter a pegada de um português. “Quando iniciei este projeto, mais gente tinha pisado a Lua do que estado no cume do Evereste na Terra.”

Perante tal testemunho, as perguntas dos alunos e professores foram surgindo. Primeiro tímidas, depois curiosas, indagadoras do pormenor, quer no domínio da vida em montanha, quer na gestão dos afetos. Umas foram “caso pensado”, fruto da leitura e reflexão prévia (questionário on-line) realizada a partir do 5º capítulo do livro A Mais Alta Solidão, atividade organizada pelas Bibliotecas (DS+VR) com o apoio de professores de Português, Geografia, Educação Física, Cidadania e TIC. Outras despontaram com a graça da curiosidade espontânea de quem descobre uma realidade nova.

Durante esta manhã, 23 de março, João Garcia fez-nos viajar até ao mítico Oriente, até à inacessibilidade das montanhas de neves eternas. Como se isso não bastasse, oferece-nos também a partilha da viagem através da leitura dos seus livros, pois ler é sempre Ler para Ser.

E já na manhã seguinte muitos tinham lido os seus livros autografados. Lido por prazer.

Obrigada a todos.

Dulce Godinho (PB- BEVR)

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PROGRAMA

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quinzena da leitura - cartaz

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Nicholas Ostler, um estudioso britânico da história das línguas, tem uma teoria que está a levantar celeuma entre os linguistas. Diz ele que o inglês está condenado a breve prazo. Não para ser substituído por outra língua, mas para dar origem a uma fragmentação dos idiomas. As ferramentas de tradução automática são, diz ele, o futuro. No seu livro “The Last Lingua Franca: English Until the Return of Babel” (Princeton 2010), sugere que o inglês está no seu apogeu, que sobreviverá enquanto grande idioma, mas que deixará de ser usado para a comunicação internacional.

Nuno Crato, «Passeio Aleatório» – «Expresso» de 30 de dezembro de 2010

Atualmente, o inglês é a principal língua franca utilizada entre diferentes povos com diferentes idiomas, permitindo um maior entendimento entre eles No texto em epígrafe, Nicholas Ostler prevê uma fragmentação dos idiomas e o aparecimento de uma “nova Babel” devido ao desenvolvimento tecnológico na área da comunicação. Eu porém não concordo com a sua opinião.

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A Torre de Babel, Pieter Bruegel

Por um lado, a língua inglesa é muito usada em serviços de comunicação e tecnológicos em todo o mundo, desde aparelhos tecnológicos, como telemóveis, computadores e tablets. A própria tecnologia utiliza inglês na sua fonte básica, no seu funcionamento, como na realização de comandos e tarefas, ou seja, implica um conhecimento geral entre os povos

Por outro lado, a simplicidade da língua facilita a sua aprendizagem e pronunciação, sendo uma das línguas mais acessíveis e de fácil entendimento e além disso, vários países comunicam com o uso de inglês como língua instituída: é reconhecido que  o inglês possui uma gramática pouco complexa, com verbos conjugados, normalmente, segundo um padrão, com certas exceções.

Em suma, o desenvolvimento da tecnologia não implica necessariamente uma fragmentação dos idiomas, devido à grande influência do inglês e a sua baixa complexidade.

Tiago Batista, 11ºC

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De qual destes retângulos gostamos mais?

Fig.1

fig.1

Uma questão semelhante foi formulada por Gustav Fechner, criador da psicofísica, num estudo sobre estatística, a pessoas sem experiência artística. No desenvolvimento do estudo foram mostrados mais retângulos e também o quadrado.

As respostas não divergiram muito, tendo a maioria indicado o quarto retângulo como o seu preferido. Outros retângulos com medidas muito aproximadas deste foram, também, eleitos por uma parte considerável.

A razão dessa preferência justifica-se com a correta proporção das partes que Fechner considera, que para serem belas, do ponto de vista da forma, deve haver entre a parte maior e a menor a mesma relação que entre a maior e o todo. Neste retângulo, escolhido pela maioria, se dividirmos o lado maior pelo menor, obtemos um número, um número aparentemente singelo, bem conhecido do mundo da matemática: 1,618.

Surge com quatro algarismos mas, na realidade, estende-se por muitos mais conforme a notação aritmética :

fórmula

Conhecido, há muito, como número de ouro ou divina proporção ou, ainda, proporção áurea, tem como designação moderna, a letra grega fi (Φ) correspondente à inicial do lendário escultor e arquiteto Fídias, encarregado da construção do templo grego Parténon.

Fig.2

fig.2

O fascínio deste número deve-se à sua presença discreta em muito do que nos rodeia: da arte à natureza, passando pela forma de objetos do dia a dia até à forma de galáxias, a sua presença é a responsável pela beleza que lhes confere.

Artistas de todos os tempos, como Leonardo da Vinci, Georges Seurat, Salvador Dali, Corbusier,  entre outros, aproximaram as suas obras da perfeição ao incluírem esta proporção áurea.

Na natureza e no caso das flores e do mundo vegetal importa introduzir um conceito matemático: a sucessão de Fibonacci. Esta série matemática inicia-se com os valores 1 e 1, a partir dos quais cada novo termo é gerado pela soma dos dois anteriores. O quociente entre qualquer termo da sucessão e o precedente aproxima-se de Φ à medida que avançamos ao longo da série:

1/1= 1

2/1= 2

3/2= 1,5

5/3= 1,666…

8/5= 1,6

13/8= 1,625

21/13= 1,615384

 Φ = 1,6180339887…

Quando se chega ao quadragésimo termo da sucessão, o quociente aproxima-se do número de ouro com uma precisão de 14 casas decimais.

Ao observarmos a flor de girassol percebemos que as sementes descrevem espirais concêntricas nos sentidos horário e anti-horário. Se as contarmos, chegamos a dois números aparentemente inocentes: 21 e 34, que são dois termos sucessivos da série de Fibonacci, no caso da pinha também encontramos dois conjuntos, em cada um dos dois sentidos de rotação, com oito e treze espirais.

Outro exemplo do padrão de sucessão de Fibonacci acontece nos ramos e folhas da planta botão de prata (Achillea ptarmica) que mantém ao longo do seu crescimento esta sequência (fig.7).

fig.7

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São várias as flores com números de pétalas pertencentes à serie de Fibonacci como por exemplo as margaridas que têm 55 ou 89 pétalas, as dálias têm 43, as chicórias têm 21, a maioria dos malmequeres tem 13 (diz-se que é para bem querer, no jogo “malmequer bem me quer..”, quando se inicia por bem me quer).

Outro aspeto facilmente observável é que as folhas nunca crescem umas por cima das outras, pois se assim fosse, ficariam privadas do sol e da chuva, crescem sim, segundo um padrão que Leonardo da Vinci teve o privilégio de ser o primeiro a dar a conhecer e que consiste na organização das folhas, em grupos de cinco, ao longo do caule, segundo uma espiral.

Voltando ao retângulo de ouro e à relação com a natureza, podemos estabelecer mais relações se tivermos em conta outras construções como a espiral dourada que observamos no molusco marinho – nautilus. Este tipo de espiral é obtido numa sucessão de retângulos de ouro se traçarmos arcos de circunferência de raio igual ao lado de cada um dos quadrados que vamos retirando e com centro no vértice de cada um deles.

       

Esta forma foi desenhada pelo arquiteto Frank Lloyd Wright para a grande rampa do museu Guggenheim, de Nova Iorque.

Encontramos esta espiral tanto na  estrutura de certas formas animais como no movimento dos insetos quando se aproximam de pontos de luz, mas também na forma dos braços das galáxias ou nas pétalas de uma rosa.

Fig.10

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No dia a dia, o desejo de beleza e de satisfação faz com que certos objetos sejam concebidos almejando esta centelha divina.

Assim, simples cartões como o do cidadão ou do multibanco, alguns livros, (a proporção que se considera mais harmoniosa é 5:8 mas por desperdiçar mais papel é reservada para edições de luxo, sendo o formato 5:7 o mais habitual), vestuário, nomeadamente nas proporções entre a peça superior e a inferior, em alguns jeans, com Φ a surgir na curva do bolso da frente, nas proporções do bolso de trás e na relação entre o pesponto da anca e a costura interior das calças até à área da música em que são conhecidos os instrumentos de Antonio Stradivarius, desenhados com grande cuidado para que os furos dos violinos se situem na proporção áurea, perseguem este ideal divino.

Fig.1

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Mas existem outros retângulos que, não sendo de ouro, fazem parte do nosso quotidiano como os do exemplo da figura 11, em que o primeiro retângulo, de 16/9, corresponde ao formato dos novos televisores; o segundo, de 36/24, ao das fotografias e, o terceiro, √2, ao formato das folhas de papel, conhecido por formato DIN, de onde resulta a designação de A0, A1, A2, A3, A4… Este terceiro retângulo é também utilizado na planta de edifícios.

Outro exemplo de retângulo menos conhecido é o retângulo de prata que apresenta um formato mais alongado. Podemos observá-lo em portais de templos e em plantas de edifícios.

Fig.12

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A relação entre as formas e o pensamento numérico é de tal maneira intrínseca que se imaginarmos um mundo sem números seria como imaginar um mundo sem computadores, sem telemóveis, basicamente sem as quatro atividades fundamentais que regem uma parte da vida do ser humano: contar, ordenar, medir e codificar. E se, para contar, foi necessário atribuir números, e numa fase anterior, substituir um objeto por um grafismo, o que deu origem a uma das grandes revoluções da humanidade, a primeira linguagem simbólica, contar, iria, muito mais tarde, gerar a matemática, da mesma maneira que desenhar daria origem a outra linguagem: a da arte e a da escrita.

E se contar  ou contabilizar foi  a primeira função, ordenar implicava por em ordem, só muito depois, surgiriam as outras, mais complexas, primeiro a medição, que requer a existência de unidades padrão para cada uma das grandezas e comparação dos resultados para efetuar operações e, por fim, a codificação, que é a modificação de um sinal de modo a torná-lo mais apropriado para uma aplicação específica, o que, na sociedade atual, tem uma grande importância.

Ana Guerreiro

Bibliografia

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8 março 2

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A compra certa no momento

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fig.2 – Ryan Mckellar e Xing Lida

Em 2015, no mercado de Myanmar, foi descoberta uma incrível peça, o mercador que a estava a vender afirmava que seria uma planta, mas Xing Lida sabia que essa informação era falaciosa e adquiriu-a, esta amostra proveio das minas de âmbar do vale de Hukawng, já famoso por muitas espetaculares criaturas datadas à mais de 99 milhões de anos. Uma equipa liderada por Xing Lida da Universidade de Geociência na China, em Beijing, e Ryan McKellar descobriram algo mais impressionante que uma planta, descobriram  nada mais nada menos do que uma cauda de dinossauro fossilizada.

 

Identidade da cauda

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fig.3 – uma reconstituição de um pequeno coelurosaurs aproximando-se de um árvore com resina

A equipa lança as suas próprias suspeitas sobre a possibilidade de a cauda pertencer a um dinossauro carnívoro integrado num subgrupo designado por coelurosaurs, contudo, não seria nenhum dinossauro gigante devido ao facto dos ossos da cauda serem de dois milímetros de largura. Se já era crescido ou juvenil permanece por desvendar. “Se tivéssemos que segurar o dinossauro na nossa mão seria mais ou menos do tamanho de um pardal” diz Ryan Mckellar.

Uma cauda repleta de história e conhecimento

Usando um potente microscópio, Dr. Mckellar analisou o âmbar. Fiquei surpreendido pela estrutura das penas que observamos na amostra,  disse ele.

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fig.4. – imagem à esquerda: mapeamento das linhas de fluxo dentro do âmbar usando a luz UV para examinar a história da preservação. Imagem à direita: raios X e análises microscópicas revelam 8 vértebras, possivelmente poderia ter 25

A maioria das aves modernas têm um eixo central designado raque. Do raque derivam pequenos eixos chamados de barbas, seguidamente destas derivam ainda mais pequenos filamentos com o nome de bárbulas. Mas esta espécie não apresentava raque, apenas

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apresentava barbas e bárbulas. A nova espécie encontrada confirma as ideias que os biólogos têm sobre a ordem pela qual algumas caraterísticas das penas modernas, como as barbas e bárbulas terão aparecido, afirma Mckeller. A descoberta sugere que as barbas e bárbulas terão evoluído primeiro que o raque (que suporta o voo) nas penas.

 

Penas? Poderia voar?

A presença de vértebras articuladas na amostra possibilita aos pesquisadores eliminar a hipótese de as penas pertenceram a uma ave pré-histórica, sugerindo que estas eram flexíveis de uma maneira que barbas de aves voadoras não são.  Tamanhas penas poderiam ter apenas uma função de camuflagem, sinalização ou desempenhar uma função termorreguladora.

As penas do dinossauro tinham um raque pouco definido e parecem cair para qualquer um dos lados da cauda. A aberta e flexível estrutura das penas é mais próxima da estrutura de penas decorativas do que as de voo, tendo estas um raque, ramificações, sub-ramificações e ganchos bem definidos que mantêm a estrutura junta.

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fig.6 – a estrutura das penas do dinossauro é flexível, aberta, e semelhante às penas ornamentais modernas

Últimas palavras da cauda

É incrível como um singular e mero pedaço de âmbar pode fornecer tanto conhecimento para a Paleontologia e Biologia. Com a situação política a estabilizar em Myanmar, paleontologistas esperam encontrar mais incríveis amostras como esta no futuro devido ao facto de uma pequena amostra na nossa mão poder vir a ser uma enorme conquista para a ciência.

André Pinto e Daniel Pereira, 12ºB

Referências bibliográficas

Fontes das imagens:

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Embora o tema principal do mês seja a cerimónia dos Óscares de Hollywood, é de destacar, por um lado, a atribuição do Urso de melhor filme na Berlinale Short a Diogo Costa Amarante  com Cidade Pequena, um filme estreado no Curtas Vila do Conde. Por outro lado, Gabriel Abrantes viu o seu Os Humores Artificiais nomeado para o prémio de melhor curta-metragem dos Prémios do Cinema Europeu de 2017, os chamados Óscares da Academia europeia. Quanto ao Cineclube Impala, a funcionar no centro comercial O Pescador na Costa de Caparica, inicia, no mês de março, o ciclo dedicado a Woody Allen com projeção, às 5ª feiras de cinco obras deste emblemático realizador.

No que respeita à 89ª edição dos Óscares da Academia de Hollywood, ela será sempre lembrada pelo momento insólito causado pela troca de envelopes aquando da indicação de melhor filme inicialmente atribuído a La La Land mas que momentos depois foi retificada, sendo o vencedor o excelente drama Moonlight de Barry Jenkins. Um embaraço histórico de uma cerimónia marcada pelas críticas a Trump mas que foram ofuscadas pela situação vivida no final.

Moonlight foi uma das estreias de fevereiro e das oito nomeações recebeu três, pois também foi distinguido com os prémios de melhor argumento original e de ator secundário atribuído a Mahershala Ali. Inspirado num  projecto, nunca apresentado, do dramaturgo Tarell Alvin McCraney, “In Moonlight Black Boys Look Blue” apresenta três momentos distintos da vida de Chiron, um jovem afro americano introvertido e solitário vivendo num bairro problemático de Miami enquanto faz o seu percurso em busca da identidade própria apoiado na figura de um traficante local e de sua mãe, uma enfermeira viciada em crack. É uma história densa e violenta, típica da periferia de Miami, onde McCraney e Jenkins cresceram.

Mas o vencedor da noite foi, sem dúvida, La La Land  de Damien Chazelle que  se tornou no mais jovem realizador a ganhar o prémio de melhor realização que se veio juntar a outros cinco entre os quais o  da fabulosa banda sonora.

Entre os inúmeros prémios realce para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro do filme The Salesman, de Asghar Farhadi, do Irão pois tanto o realizador como os atores não compareceram à cerimónia como protesto contra as medidas xenofóbas de Trump, tendo sido  representados por duas figuras iranianas de grande relevância nos Estados Unidos: a engenheira Anousheh Ansari, primeira mulher a fazer turismo espacial, e Firouz Naderi, antigo diretor de explorações solares da NASA.

Outra estreia de fevereiro foi Vedações de Denzel Washington que valeu, o merecido reconhecimento, a Viola Davis com o Óscar de melhor atriz secundária tornando-se na primeira atriz afro-americana a acumular  este prémio com o Tony e Emmy. Baseia-se na premiada peça teatral homónima de August Wilson e retrata, com diálogos intensos e comoventes, uma história familiar na década de 1950, época de descriminação racial.

Também sobre a descriminação racial, Elementos secretos de Ted Melfi apresenta a história desconhecida e valiosa do importante contributo para a corrida espacial da NASA de brilhantes mulheres afro-americanas.

Igualmente sobre momentos históricos americanos, tivemos Jackie de Pablo Larraín, com Natalie Portman a interpretar a  bela e misteriosa Jacqueline Kennedy, mulher do presidente americano John Kennedy assassinado em  22 de novembro de 1963.

Outra obra didática e quando estamos a viver uma época em que sopram, novamente, os ventos da intolerância, Stefan Zweig – adeus Europa de Maria Schrader relata episódios  da vida  do escritor e pacifista judeu austríaco perseguido pelos nazis, que previu o declínio da Europa. Exibido, anteriormente, na Mostra de Cinema de Expressão Alemã é apresentado como um documentário histórico sobre uma das grandes personagens do século XX durante o seu exílio no continente americano até ao suicídio em Petropólis, Brasil, em 1942.

Outra obra com enredo no século passado, Mulheres do século XX de Mike Mills é uma agradável comédia dramática autobiográfica sobre as memórias do realizador relacionadas com o papel que as figuras femininas tiveram no seu percurso de vida .

Por seu turno, Toni Erdmann de Mare Ade é um premiado filme que, além de distinguido com inúmeros galardões pela Academia europeia de cinema e de nomeações para vários festivais, foi o representante da Alemanha ao Óscar de melhor filme estrangeiro. Apesar de longo é uma obra divertida que tem como base a relação familiar conturbada entre pai e filha e a forma como vai evoluir de maneira a criarem laços afectivos.

Os que consideram Trainspotting de 1996 de Danny Boyle um filme de culto devem aprovar a sequela com o mesmo elenco. Este segundo filme, baseado no livro de Irvine Welsh intitulado Porno, passa-se nove anos depois dos eventos da primeira longa-metragem com o tema habitual relacionado com a autodestruição, a heroína, a vingança e a amizade.

Por fim, da longínqua Nova Zelândia, chega-nos O Patriarca de Lee Tamahori,  baseado no livro de Witi Ihimaera  Bublibasha: King of the Gypsies. Com ação na década de 1960, apresenta um drama familiar centrado na disputa entre duas famílias mahori envolvidas na indústria de lã. Embora o enredo não seja original, o filme vale pela banda sonora e pelas belíssimas paisagens da Nova Zelândia rural além de que é sempre enriquecedor ver cinematografia de outros países além das produções europeias e norte-americanas.

Termino com uma referência especial à 16 ª edição da Monstra Festival de Animação de Lisboa, a decorrer de 16 a 26 março, com a Itália como país convidado, exibindo uma programação aliciante e diversificada, abrangendo obras de várias proveniências que, certamente, irão agradar aos cinéfilos.

Luísa Oliveira

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