Hoje gostaria de falar de um músico que, do meu ponto de vista, marcou o mundo da música, chegou mesmo, de certo modo, a revolucioná-lo com as suas letras e postura em palco. Esse cantor é Ian Curtis e a sua banda, os Joy Division.
A banda formou-se durante um concerto dos Sex Pistols, em 1976. Inicialmente, eram apenas Ian, Bernard Sumner e Peter Hooks; só mais tarde é que encontraram o seu baterista, Stephen Morris.
Ian era o cantor e compositor da maior parte das músicas da banda e as letras eram variadas. Enquanto outras bandas britânicas, pós-punk, como os The Clash ou os Sex Pistols falavam, essencialmente, da sociedade em que viviam, fazendo-lhe várias críticas, Ian falava sobre a sua vida, mas de um modo pouco evidente. Os seus ídolos eram David Bowie e Iggy Pop, e desde de cedo falava sobre a morte e como não queria viver muito tempo.
Casou-se com Deborah Woodruff, em 1975, quando ele tinha 19 anos, e ela 18, e quatro anos depois, em 1979, tiveram uma filha, Natalie.
Na altura não se sabia, mas Ian era bipolar, tinha uma grande dificuldade em lidar com os seus sentimentos, e considero o facto de ter casado cedo como um impulso de momento, tanto que ele acabou por ter uma amante, a jornalista belga Annik Honoré. A música mais conhecida da banda é Love will tear us apart again, que fala sobre o triângulo amoroso entre Deborah, Annik e Ian. Nessa música, ele próprio se interroga: “Why is it something so good/ Just can’t function no more?”, ou seja, como é que algo tão bom, já não funciona mais? Pois o que ele e Deborah tinham era algo bom, estavam juntos desde os 16 anos, e ele não entendia porque já as coisas não eram como dantes, o que revelava a sua incapacidade em lidar com os sentimentos.
Para além de ser bipolar, Ian era também epiléptico, e era frequente ter ataques em palco. Deborah, no seu livro Touching from a Distance: Ian Curtis and Joy Division, fala disso, do medo que ele tinha do palco e como a maior parte das vezes actuava sobre o efeito de drogas simplesmente para se controlar. Relativamente à sua epilepsia, ele escreve uma música chamada “She’s lost control”, pois um dia no seu local de trabalho, quando ajudava as pessoas a arranjar emprego, uma mulher teve um ataque de epilepsia à sua frente o que o deixou bastante sensibilizado. Na canção ele refere-se a “she”, mas no fundo está a referir-se a si próprio, pois para ele a sua epilepsia era uma forma de perder o controlo, era algo superior a ele, que não conseguia controlar.
Já referi aqui várias vezes a sua instabilidade emocional o que o levou há 31 anos atrás, no dia 18 de Maio de 1980 a suicidar-se. Disse a Deborah que queria estar sozinho, ela foi com Natalie para casa nos pais e no dia seguinte, quando voltou, encontrou Ian enforcado na cozinha, com o álbum The Idiot do Iggy Pop a tocar, enquanto na televisão passava o Stroszek de Werner Herzog.
Muitas pessoas ficaram chocadas com o facto de ele se ter suicidado, diziam que ele podia ter os seus problemas, mas que não estavam à espera, e eu pergunto, não estavam à espera?! Estava tudo na música dele! É óbvio que não estava lá escrito “Hey! Vou suicidar-me”, mas letras como a da sua canção Dead Souls: “They keep calling me” já o revelavam. Em Passover toda a música fala disso, das suas desilusões, das coisas com as quais ele não sabia lidar: “This is the crisis I knew had to come/ Destroying the balance I’d kept/ Turning around to the next set of lives/ Wondering what will come next”. Assim, o que veio a seguir foi o seu suicídio. “Can I go on with this train of events?” e a resposta é não. Ele não conseguiu porque não deixava que o ajudassem, não conseguiu porque também nunca ninguém realmente percebeu o que se passava, não conseguiu porque talvez ele próprio não quisesse. Podia ter continuado mas preferiu não o fazer.
Ian morreu aos 23 anos, quando ainda tinha muito para dar ao mundo da música.
2ª imagem daqui
Beatriz Valente, 11ºE
Parabéns Beatriz, fico muito contente que tenha respondido ao desafio, fazia falta uma rúbrica sobre música e os Joy Division foi uma óptima escolha! Boas férias, retempere-se, e aproveite para pesquisar assuntos para novos artigos (oxalá seja menos irregular que eu a “postar”)
Gostei muito do seu artigo sobre Ian Curtis pois aprecio bastante os Joy Division. Parabéns pela escolha! Na minha opinião, a sua estreia no Bibli foi excelente!
por coincidência, uma rúbrica sobre música foi uma das minhas sugestões no questionário sobre o blog 😉
espero ver mais!