Para os cinéfilos o mês de maio está sempre associado à maior mostra de obras de cinema, o festival de Cannes. A 66ª edição esteve rodeada pelo glamour habitual misturado com alguma polémica, nomeadamente, quando da atribuição dos prémios do júri presidido por Steven Spielberg. O filme La vie d’Adèle, uma história de amor lésbico do realizador franco-tunisino Abdellatif Kechiche, venceu a Palma de Ouro e este fez questão de estar acompanhado, no palco, pelas duas protagonistas , Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux na entrega do galardão. Kechiche dedicou o prémio à belle jeunesse de França e da Tunísia, onde se faz a revolução. Os irmãos Cohen receberam o grande prémio por Inside Llewyn Davis, um filme nostálgico sobre Greenwich Village e a música folk, o mexicano Amat Escalante recebeu o prémio de melhor realização por Heli e o prémio do júri foi para Hirokazu Kore-Eda com Like Father, Like Son.
O cinema português também foi distinguido com João Nicolau a receber o prémio de melhor curta-metragem para Gambozinos, exibida no âmbito da iniciativa paralela Quinzena dos Realizadores, sendo que André Gil Mata foi distinguido com o prémio DocAlliance por Cativeiro. A participação na Quinzena dos Realizadores significa um regresso para João Nicolau, que já tinha apresentado no certame as curtas-metragens «Rapace» (2006) e «Canção de Amor e Saúde» (2009). Criada pela Sociedade dos Realizadores de Filmes, a Quinzena dos Realizadores visa descobrir os filmes de jovens autores e saudar as obras de realizadores conhecidos.
De igual modo, Regina Pessoa com o filme de animação Kali, o pequeno vampiro continua a somar prémios tendo recebido o de melhor curta-metragem no Festival de São Francisco sendo que no 19.º Festival Ibérico de Cinema de Badajoz foi duplamente distinguida com os prémios para a melhor banda-sonora (de autoria da banda suíça The Young Gods) e uma menção especial do júri. Kali, o Pequeno Vampiro que relata a história de um rapaz diferente dos outros que sonha em encontrar o seu lugar no mundo, completa uma trilogia, que Regina Pessoa iniciou com A Noite (1999) e continuou com História Trágica com Final Feliz (2005), todos realizados com a técnica de desenho e gravura, mas o último dos quais já recorrendo ao computador.Foi produzido por Abi Feijó e pela Ciclope Filmes, com estreia nacional no IndieLisboa do ano passado mas ainda está à espera de chegar ao circuito comercial.
Das inúmeras estreias do mês, destaque para adaptações de obras da literatura mundial O Grande Gatsby de Baz Luhrmann, quarta adaptação ao cinema do romance homónimo de 1925 de Scott Fitzgerald que, de forma exuberante, apresenta o sonho e a ilusão dos “loucos anos 20”. Esta versão em 3D e 2D que tem dividido a crítica foi o filme de abertura da 66ª edição do festival de Cannes; Grandes Esperanças de Mike Newell, baseado na obra homónima de Charles Dickens e a cópia restaurada digitalmente do épico de 1962, Lawrence da Arábia de David Lean a partir de “Sete pilares da sabedoria” de T.E.Lawrence.
Das restantes estreias, realce para A República di Mininus do conceituado realizador guineense Flora Gomes, numa coprodução portuguesa e francesa com a participação do ator norteamericano Danny Glover. Os temas da velhice, solidão e doença de Alzheimer estiveram presentes no comovente filme de animação direcionado para adultos Rugas de Ignacio Ferreras e na estreia como realizador de Dustin Hoffman com Quarteto uma obra sobre pessoas “no terceiro ato das suas vidas que ainda têm muito para dar”. Com excelentes atores no elenco como Maggie Smith e Tom Courtenay, 2% das vendas totais de bilheteira deste filme reverte a favor da Casa do Artista, instituição que apoia artistas portugueses.
Da Roménia e da Coreia do Sul chegou-nos, respetivamente, Para lá das colinas de Christian Mungiu e Noutro país de Hong Sang-soo, apresentando-se em complemento a curta-metragem de Filipe Reis e João Miller Guerra Fragmentos de uma observação participativa.
O drama esteve representado com Os nossos filhos do belga Joachim Lafosse baseado nos trágicos acontecimentos do denominado caso Lhermitte, o sensível A Essência do amor, escrito e realizado por Terrence Malick, em que o amor e a fé estão conjugados num jogo de sentidos e emoções, e Um planeta solitário de Julia Loktev. O reconhecido cineasta, grego, Costa Gravas, continua a desenvolver temáticas atuais, neste caso, nos meandros da alta finança, em Capital. A adaptação da obra homónima do escritor paquistanês Mohsin Hamid O fundamentalista relutante de Mira Nair faz-nos refletir sobre o mundo em que vivemos, em resultado das mudanças verificadas com os acontecimentos de 11 setembro 2001.
É sempre agradável visionar filmes de comédia sendo que o destaque vai para Incompatíveis e não só de David Charhon, Aprovado de Paul Weitz com a comediante Tina Fey, Seleção natural de Robbie Pickering e a continuação da saga, campeã de bilheteira, Ressaca- parte III de Todd Phillips. Com Epic-o reino secreto de Chris Wedge e Tom J. Astle, apresenta-se o habitual filme de animação.
A cinematografia nacional, por sua vez, esteve representada com o drama Photo, que marcou a estreia na realização de Carlos Saboga, um dos mais premiados argumentistas nacionais e Além de ti de João Marco.
A Zon Lusomundo Cinemas, em parceria com a IMAX e a Sonae Sierra, abre dia 20 de junho a primeira sala de cinema IMAX Digital 3D em Portugal, com exibição do filme Parque Jurássico. Na semana seguinte é a vez de O Homem de Aço de Zack Snyder. O Centro Comercial Colombo, em Lisboa, foi o local escolhido pela sua relevância comercial, localização, acessibilidade e volume de visitantes, segundo justifica a Zon Lusomundo Cinemas, que acrescenta estar já em construção uma sala de cinema totalmente nova no âmbito da reestruturação do Complexo de Cinemas.
Luísa Oliveira
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