Cumprindo-se uma tradição iniciada em 1901, as cerimónias oficiais de entrega dos Prémios mais cobiçados internacionalmente realizaram-se em Oslo e Estocolmo no dia 10 dezembro, aniversário da morte do patrono, Alfred Nobel, filantropo e industrial e, ironicamente, inventor da dinamite.
Em outubro os sucessivos anúncios dos diversos laureados, que são sempre seguidos com expetativa pela imprensa internacional, iniciam-se com os contemplados com O Prémio Nobel da Medicina, que este ano distinguiu James E. Rothman (Universidade de Yale), Randy W. Schekman (Universidade da Califórnia em Berkeley) e Thomas C. Südhof (Universidade de Standford), “pelas suas descobertas da maquinaria de regulação do tráfego vesicular, um importante sistema de transporte nas nossas células”. Já se sabia que as moléculas produzidas pelas células vivas são transportadas para os diferentes locais onde são necessárias, dentro de pequenas bolsas ou vesículas sendo que a questão de saber como as vesículas conseguiam entregar a sua carga no sítio certo, na altura certa, permanecia um dos grandes mistérios do funcionamento celular. Devido a este facto, o trabalho dos laureados permitiu perceber os pormenores deste sistema de tráfego vesicular que é crucial para uma variedade de processos celulares na medida que certas doenças imunitárias, neurológicas assim como a diabetes, caracterizam-se por defeitos nestes processos, habitualmente muito bem orquestrados, de tráfego intracelular. E, embora estas descobertas não tenham ainda dado origem a novos tratamentos contra este tipo de doenças, o importante é perceber como funciona este sistema de base, crucial para o normal funcionamento de todas as células.

François Englebert e Peter Higgs, laureados com o Nobel da Física
Seguiu-se-lhe o anúncio do Prémio Nobel da Física, atribuído ao belga François Englert e ao britânico Peter Higgs pelo seu trabalho sobre o bosão de Higgs, também conhecido como “partícula de Deus”. Os dois cientistas octogenários foram distinguidos pelos seus trabalhos “sobre a descoberta teórica de um mecanismo que contribui para a compreensão da origem da massa das partículas subatómicas”. Este reconhecimento verificou-se devido à confirmação experimental da existência do bosão, em 4 de julho de 2012, pelo Centro Europeu de Física de Partículas (CERN) no seguimento de conclusões da investigação apresentada há cinquenta anos por aqueles cientistas e pelo físico belga Robert Brout, já falecido. Trata-se de uma partícula que está presente em todo o espaço e é nas interacções com ela que as outras partículas subatómicas adquirem a sua massa, uma vez que, sem esta partícula, nem nós próprios existiríamos. No entanto, o bosão de Higgs é extremamente difícil de “apanhar” e só se manifesta de forma extremamente fugidia em experiências que põem em jogo os feixes de partículas mais potentes e os detectores de partículas mais sensíveis que existem no planeta, pelo que, a sua deteção exigiu anos de esforços por parte dos cerca de seis mil cientistas que participam nas duas complexíssimas experiências do CERN, ATLAS e CMS, concebidas para o detetar.

O Prémio Nobel da Química de 2013 foi para os cientistas de nacionalidade norte-americana Martin Karplus (Universidade de Estrasburgo, França, e Universidade de Harvard, EUA), Michael Levitt (Universidade de Stanford, EUA) e Arieh Warshel (Universidade da Califórnia do Sul, EUA), “pelo desenvolvimento de modelos multiescala para sistemas químicos complexos”, conforme anúncio da Real Academia Sueca das Ciências. Hoje em dia, a simulação das mais complexas reacções químicas no computador é prática corrente. Mas não foi sempre assim – de facto, os três laureados “construíram as bases dos potentes programas [informáticos] que são [hoje] utilizados para perceber e prever os processos químicos”, salienta a mesma entidade em comunicado acrescentando que “a força dos métodos desenvolvidos reside no seu carácter universal pois podem ser usados para estudar todo o tipo de química, das moléculas da vida aos processos químicos industriais.” Um dos sonhos assumidos de Levitt é simular a totalidade de um organismo vivo ao nível molecular. E, segundo a academia, “só o futuro pode decidir” se as poderosas ferramentas desenvolvidas pelos laureados irão um dia permitir concretizar esse sonho.

Alice Munro, Prémio Nobel da Literatura
O Prémio da Literatura, sempre um dos mais aguardados, contemplou a autora canadiana Alice Munro denominada “mestre do conto contemporâneo” e também conhecida como o Chekhov canadiano, tendo vencido, em 2009, o Man Booker Prize pela totalidade da sua obra. Os seus romances e contos exploram as complexidades humanas através de narrativas aparentemente simples em que prevalecem os temas ligados ao envelhecimento e ao dilema da rapariga rural na relação com a sua família e a pequena cidade. Por razões de saúde não está prevista porém a sua presença na cerimónia.

Organização para a proibição das armas químicas, Nobel da Paz
Mas a nomeação que cria sempre mais expectativa é a do Nobel da Paz sendo que, neste ano, a jovem ativista paquistanesa, Malala Yousafzai, vítima da violência taliban e defensora da educação para as adolescentes e mulheres era a que mais consenso gerava entre as 259 candidaturas. No entanto, a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPCW, sigla em ingês) “pelo seu trabalho considerável para eliminar as armas químicas”, foi a selecionada pelo presidente do comité Nobel, Thorbjoern Jagland que acrescentou ainda que “os acontecimentos na Síria, onde as armas químicas foram usadas, sublinham bem a necessidade de aumentar os esforços no sentido de acabar com este tipo de armas”. Embora pouco conhecida do grande público esta organização foi fundada, em 1997, para pôr em prática a convenção sobre as Armas Químicas. Atualmente conta com 189 membros representando 89% da população mundial . O trabalho da OPCW tem estado em foco depois de ficar encarregue, através de uma resolução das Nações Unidas, de supervisionar o desmantelamento do arsenal químico do regime sírio de Bashar al-Assad até 30 de junho de 2014.
O Prémio Nobel da Economia 2013, na realidade designado por Prémio de Ciências Económicas e patrocinado, desde 1969, pelo Sveriges Riksbank foi atribuído aos economistas norte-americanos Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller pelos estudos de análise empírica sobre os preços dos ativos justificando o comité que “apesar de ainda não dispormos de explicações completas e completamente consensuais sobre a forma como os mercados financeiros funcionam, a investigação dos laureados melhorou significativamente a nossa compreensão sobre os preços dos ativos e revelou um número de regularidades empíricas importantes, tal como fatores plausíveis dessas regularidades”.
E, para não quebrar a tradição, a entrega dos prémios naquelas cidades escandinavas foi acompanhada de vários eventos comemorativos.
Luísa Oliveira
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