GARCIA MÁRQUEZ, Gabriel (1981), Crónica de uma morte anunciada, Pub. Dom Quixote.
“No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5.30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo.” A primeira frase de um livro é muitas vezes essencial à decisão por parte do leitor de o ler e neste caso o leitor fica desde o início a conhecer o destino deste homem. A crónica foi extremamente bem conseguida, mantendo o leitor agarrado à história e em suspense até ao final porque, apesar de sabermos que Nasar vai morrer, a narrativa alimenta sempre uma esperança de que alguém impeça a sua morte.
No fundo, esta é uma história sobre a incrível quantidade de acontecimentos fortuitos e coincidências funestas que deixam a inquietante reflexão de que “a fatalidade faz-nos invisíveis” e na qual um homem morre em frente a uma população que nada faz para impedir a sua morte.
A “Crónica de uma morte anunciada” é a reconstituição da morte insólita de Santiago Nasar. Baseada numa história verídica, o relato é feito por um amigo de Santiago Nasar que, 23 anos depois, tenta reconstituir as circunstâncias em redor da sua morte e as suas causas.
A história passa-se numa pequena aldeia da América Latina onde Angela Vicario, proveniente de uma família modesta, é obrigada a casar-se com Bayardo San Román, um forasteiro muito rico e extremamente poderoso. Logo após a noite de núpcias o noivo devolve a jovem ao constatar que esta não era virgem. Quando Angela é pressionada pelos dois irmãos, os gémeos Pedro e Pablo Vicario, aponta Santiago Nasar como o causador da sua desgraça, talvez por pensar que por este ser rico era intocável.
Com honra da família manchada os gémeos Vicario decidem assassinar Nasar. Na realidade, fazem tudo para deixarem claras as suas intenções, com o objetivo de que alguém os impeça. Assim, apregoam aos quatro ventos que iriam matar Santiago Nasar pelo que toda a população da aldeia sabe o que vai suceder. O comportamento dos gémeos poderia ter dado uma oportunidade a Nasar de escapar à morte, no entanto os seus amigos mais próximos são os únicos que não sabem que este vai morrer e no que diz respeito ao resto da aldeia ninguém se perguntou sequer se Santiago Nasar estava avisado, porque a todos parecia impossível que não estivesse.
Tenho também a dizer que gostei em especial do papel desempenhado por Cristo Bedoya que, no meio de todo o drama, foi dos únicos que acreditou existir uma ameaça real à vida do seu amigo e que tudo fez para o avisar.
No entanto, as circunstâncias estiveram todas contra Santiago Nasar e nada o pôde salvar do seu destino muito anunciado.
Rita Lobo, 10ºB