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Archive for the ‘As Fitas do Mês’ Category

O Festival de Cannes continua a marcar o mundo cinematográfico no mês de maio.  Na 72ª edição o cinema de autor marcou uma forte presença, sendo que a Palma de Ouro foi atribuída ao realizador coreano Bong Joon Ho com The Host – a criatura volta.  Considerado um filme de terror, revela o mal-estar da sociedade coreana a partir da história de uma família pobre que planifica   o assalto à residência de um casal abastado.

No que respeita a estreias, muitas das películas têm como base factos verídicos, como é o caso de O professor e o louco de Farhad Safinia, relacionados com a criação, no século XIX, do conceituado Oxford English Dictionary de importância vital para os que utilizam a língua inglesa. A partir do best seller de Simon Winchester, Mel Gibson e Sean Penn interpretam, respetivamente, o professor James Murray, principal organizador do dicionário e o Dr. William Chester Minor, veterano da guerra civil americana que colaborou de longe pois estava preso num asilo para criminosos loucos.

Também a partir de factos verídicos, mas traumatizantes, Hotel Mumbai do australiano Anthony Maras, com testemunhos reais e fonte documental, debruça-se sobre as vítimas e sobreviventes dos ataques terroristas na cidade indiana de Mumbai em 2008, nomeadamente, no hotel de luxo Taj Mahal Palace. A obra demonstra de forma brutal o trágico pesadelo vivido por todos que se encontravam no espaço dominado pelos terroristas.

Mas a principal estreia do mês foi o aguardado e elogiado filme de Dexter Fletcher, Rocketman, sobre o percurso musical do ícone da música pop Elton John. Numa obra com excelente banda sonora, o ator Taron Egerton é brilhante ao encarnar o carismático músico na idade adulta vivendo, por vezes, momentos atribulados, mas que o vão tornar uma superestrela do mundo musical. Também com caráter autobiográfico mas numa área diferente, temos Uma família no ringue de Stephen Merchand, inspirado na extraordinária história de vida da britânica Paige, uma superestrela da WWE (World Wrestling Entertainment) que se retirou da competição de luta livre profissional em 2018 por motivos de saúde. 

O período de Guerra Fria e o perigo que representava para a humanidade devido ao confronto latente entre os EUA e URSS continua a ser um tema recorrente, como podemos verificar em Uma traição necessária de Trevor Nunn, com Judi Dench   interpretando a protagonista de um filme não só de espionagem mas também sobre a condição feminina. A obra baseia-se no romance de Jennie Rooney, inspirado na história real de Melita Norwood, conhecida por “avó espia” quando foi presa no final da década de 1990.  Os seus atos como agente de espionagem ao serviço do KGB são justificados não por razões ideológicas mas porque julgam ter sido manipulada pelo facto de ser uma mulher com uma ligação sentimental a um militante comunista.

Uma outra perspetiva do período da Guerra Fria e da censura na Rússia pode ser encontrada em Verão de Kirill Serebrennikov, que mostra como o rock servia para a juventude se libertar da opressão política e social em que vivia e através dessa manifestação musical prosseguir os seus sonhos de liberdade artística. Com momentos musicais dos anos 80 do século XX é uma obra a preto e branco, tendo o realizador estado em prisão domiciliária desde agosto de 2017 o que inviabilizou a sua presença no festival de Cannes 2018. No passado mês de abril um tribunal de Moscovo decretou liberdade de movimentos desde que não abandone o território russo.

A vitalidade do cinema francês aparece na divertida comédia de enganos Os Velhos jarretas de Christophe Duthuron sobre a forma como um grupo de amigos idosos enfrentam questões pessoais do passado por resolver. Igualmente interessante e divertido, O que me ficou da revolução de Judith Davis é uma forma de debater o papel e a força da ideologia num mundo global.  Num género diferente, o thriller psicológico, misturando terror e drama, surge-nos O intruso de Deon Taylor.  Para os admiradores do western, temos Billy the Kid: a lenda de Vincent D` Onofrio, abrangendo o último ano de vida do icónico fora-da-lei.  

Por fim, estreou-se a película de ficção Godzilla II: rei dos monstros de Michael Dougherty, destacando-se as batalhas épicas de monstros que fazem parte da cultura popular. Como estamos no período estival, a Associação Gandaia, sediada na Costa de Caparica, tem um programa ambicioso para animar os cinéfilos durante os meses de verão, prosseguindo com os seus ciclos de cinema, sendo que julho é dedicado ao realizador Richard Linklater, com as obras apresentadas todas as quintas feiras no Auditório da Costa de Caparica. Na Praça de Liberdade, nos meses de julho e agosto, é apresentado um evento de cinema ao ar livre às sextas e sábados, o que é um bom pretexto para descontrair e usufruir das altas temperaturas do verão.

Luísa Oliveira

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No mês em que se comemora o fim do regime ditatorial em Portugal estrearam-se documentários aliciantes que contribuem para preservar a memória. Da nossa vizinha Espanha, O silêncio dos outros, de Almudena Carracedo e Robert Bahar e produção de Pedro Almodóvar, é um retrato realista das vítimas e sobreviventes das décadas da ditadura de Francisco Franco. Filmado ao longo de seis anos, conquistou o prémio Goya para Melhor Documentário e o do público da secção Panorama do Festival de Berlim. Apresenta testemunhos sobre todos os tipos de violação dos direitos humanos de que os espanhóis foram alvo nesse período mas que não são reconhecidos pelo poder central pois a Lei da Amnistia de 15 outubro de 1977 libertou os presos políticos mas os que cometeram os crimes foram ilibados dos mesmos.

As vítimas de regimes ditatoriais são globais como demonstra Almas mortas de Wang Bing, uma obra sobre as purgas maoístas dos anos 50 e 60, abordando os sobreviventes dos campos de reeducação localizados no extenso deserto de Gobi onde ficaram esquecidos e muitos morreram à fome. Ainda sobre a China, o brasileiro Walter Salles realizou Jia Zhang-Ke, um homem de Fenyang sobre o cineasta reconhecido pela sua criatividade, sendo o documentário um pretexto para reflexão sobre a sociedade chinesa e todas as alterações verificadas a nível da família, cultura e espaços urbanos.

Também focando uma personalidade importante da área cultural Piazzola, os anos do Tubarão, de Daniel Rosenfeld, apresenta, a partir de imagens do arquivo privado familiar, um retrato do lendário músico e compositor argentino Astor Piazzola, falecido em 4 julho de 1992, que revolucionou o tango, tornando-o um género musical de vanguarda durante décadas.

O desempenho de atrizes enriquece e valoriza muitos filmes e estrearam-se vários em que a prestação feminina é determinante para o sucesso dos mesmos. Do Cazaquistão, podemos apreciar uma excelente e dura película que retrata algumas realidades sociais com Ayka  de Sergei Dvortsevoy, que  no festival de Cannes 2018 atribuiu o prémio de melhor atriz a  Samal Yeslyamova  no papel  da  protagonista  do título que, vivendo numa situação ilegal em Moscovo,  procura, de forma desesperada, o seu bébé  abandonado num hospital.  Outra estreia de grande qualidade é o drama histórico Anoitecer escrito e realizado pelo húngaro László Nemes com Juli Jakab  no papel da protagonista Írisz Leiter, procurando  trabalho numa luxuosa loja de chapéus,  em Budapeste, que tinha pertencido, anteriormente, à sua família. As acções que expõem o retrato psicológico da protagonista aliam-se aos sinais premonitórios do início da 1ª guerra mundial.

Ainda sobre temas ligados aos conflitos mundiais, O dia a seguir de James Kent retrata  as convulsões emocionais  e traumáticas na Alemanha no 2º pós guerra, com Keira Knightley a brilhar neste drama de época formando um triângulo amoroso com Jason Clarke e Alexander Skarsgard  num período  marcado por mudanças pessoais e de superação de conflitos internos. Numa temática diferente mas, igualmente, com desempenho meritório feminino, Isabelle Huppert sobressai no filme de suspense e terror Greta – viúva solitária do realizador irlandês Neil Jordan, mostrando como a solidão nas grandes cidades pode conduzir a estados psicóticos, tendo Chloe Grace Moretz no papel de uma jovem e  indefesa  vítima. Sem abandonarmos o género terror, tivemos a estreia da nova adaptação da afamada obra de Stephen King Samitério de animais realizado por Kevin Kolsch e Dennis Widmver trinta anos após a primeira versão para o cinema. Desta vez há algumas alterações ao original publicado em 1983 que apresenta alguns elementos autobiográficos mas mantém-se o mesmo enredo sobrenatural   e aterrador.

Constituindo um divertimento agradável, a comédia francesa Outra de Daniel Auteuil mistura fantasia e romance com prestações características desta cinematografia. Também produção de francesa e baseada em factos reais, A incrível história do carteiro Cheval de Nils Tavernier mostra como os sonhos podem tornar-se reais quando Joseph FerdinandCheval, entre 1879 e 1912, idealiza um palácio para a sua adorada  filha,  em Hauterives, sendo classificado como monumento histórico em 1969. Para o público infantil, Parque das maravilhas de David Feiss surge repleto de imaginação e alegria.

Finalmente, o festival independente Indie Lisboa apresenta a sua 16ª edição de 2 a 12 maio com um vasto programa marcado pela diversidade, o que é sempre um pretexto para visionar variadas obras de qualidade.

Luísa Oliveira

 

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Em 24 de março realizou-se, no Casino Estoril, a 7ª edição dos Prémios Sophia, organizados pela Academia Portuguesa de Cinema. “Raiva” de Sérgio Tréfaut foi o grande vencedor e entre os vários prémios que recebeu foi distinguido como o Melhor Filme de 2018. Filmado a preto e branco, é a adaptação do clássico do neorrealismo português de 1958 “Seara de Vento” de Manuel da Fonseca e, a partir de factos verídicos ocorridos em Beja em 1930, relata a história de um trabalhador rural que, perante uma grande injustiça e exploração laboral de que era vítima, perde a razão e transforma-se num assassino.

Quanto a estreias, Chuva é cantoria na aldeia dos mortos de João Salaviza e Renée Nader Messora, premiado em vários festivais entre os quais o prémio especial do júri “un certain regard “em Cannes, foi rodado durante nove meses numa aldeia indígena brasileira sendo protagonizado pelo adolescente Ihjac da tribo dos Krahô. Em Cannes os realizadores referiram que o prémio atribuído também se destina ao “Brasil indígena, historicamente negado, silenciado, assassinado”.

No entanto, a estreia mais aguardada do mês trouxe magia e fantasia com Dumbo de Tim Burton, um comovente e belíssimo remake do clássico da Disney de 1941, baseado numa história infantil escrita por Helen Aberson e ilustrada por Harold Pearl. Associando imagens reais e efeitos digitais e com um elenco de estrelas como Danny DeVito, Eva Green, Colin Farrell e Michael Keaton, é com sensações de encantamento e deslumbramento que assistimos, nesta maravilhosa obra, às aventuras do sensível elefante cujas orelhas grandes proporcionam a capacidade de voar.

O papel e importância dos laços familiares em qualquer fase da vida estão referenciados em várias películas. Do Paraguai veio uma dessas obras, As herdeiras de Marcelo Martinessi, focando o isolamento feminino numa sociedade patriarcal. A atriz Ana Brun que interpreta uma das personagens da alta burguesia cuja vida se altera com a falência da família, foi considerada a melhor atriz no festival de Berlim. O papel da família na forma como gere as mudanças também está presente na sensível obra para refletir Uma criança como Jake de Silas Howard abordando a questão da identidade de género e o papel dos pais no apoio ao seu filho. Da Irlanda, Rosie Uma família sem teto de Paddy Breathnach trata, igualmente, um tema atual mas demonstrando como o amor consegue gerir momentos de crise mantendo a união familiar. Num contexto diferente mas envolvendo também uma dinâmica familiar dramática, o artístico Pereira Brava do realizador turco Nuri Bilge Ceylan é direcionado aos fãs deste realizador com diversas questões filosóficos, teológicos e éticas apresentadas numa bela obra mas demasiado extensa.

Os acontecimentos ocorridos durante a Revolução Francesa regressam com Uma Nação, um Rei de Pierre Schoeller, focando a tomada da Bastilha e execução de Luís XVI, mas com uma visão idílica dos acontecimentos, não revelando o terror e atrocidades cometidas em nome da liberdade, igualdade e fraternidade. Um acontecimento atual, Kursk de Thomas Vinterberg sobre a tragédia que envolveu o submarino nuclear russo K-141 Kursk mostrando os obstáculos burocráticos que os familiares dos tripulantes enfrentaram na tentativa vã de os salvar. Nós de Jordan Peele   é uma película sobre o género de terror desenvolvendo o tema do sósia maligno de vestuário vermelho apresenta alguma carga política pois é considerado uma alusão aos republicanos apoiantes de Donald Trump.

Por fim, temos o filme do realizador japonês Leo Sato A guerra do caldeirão de Kamagasaki, vencedor do grande prémio da 5º edição do festival Porto / Post / Doc. Filmado num subúrbio da cidade japonesa de Osaka segundo a sinopse apresentada pelo festival “é uma ficção do real, com os habitantes a tornarem-se atores de uma narrativa satírico-cómica sobre a sua própria luta contra a opressão”.

Voltando à cinematografia portuguesa, é de referir que o júri do 19.º Festival Internacional de Cinema de Las Palmas de Gran Canária, Espanha, decidiu entregar o prémio “Lady Harimaguada” de ouro ao filme “A Portuguesa”, de Rita Azevedo, apontando como principais razões para o reconhecimento “O rigor, lucidez e sensibilidade da autora para fazer conviver o classicismo com a modernidade numa crónica histórica”.

Luísa Oliveira

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No dia 24 fevereiro a 91ª cerimónia de entrega dos Óscares da Academia de Hollywood, pela primeira vez em trinta anos, decorreu sem um apresentador principal mas o fausto e as expectativas sobre os vencedores mantiveram-se.

As estreias de fevereiro contemplaram alguns filmes oscarizados como Favorita de Yorgos Lanthimos que, apesar de ter dez nomeações, arrecadou só a estatueta para Olívia Colman como melhor atriz, num drama baseado em factos reais da corte inglesa no início do século XVIII, com os seus mexericos e pressões políticas.

Regina King foi considerada a melhor atriz secundária pelo seu papel em Se esta rua falasse de Barry Jenkins, uma belíssima, sensível e poética obra baseada no romance homónimo de James Baldwin.  Esta comovente história de amor e de crítica social decorre no bairro de Harlem na década de 70 do século XX quando o preconceito racial vigente na sociedade americana impedia realizações pessoais mas demonstrando também como o amor consegue ultrapassar todas as dificuldades impostas pelas injustiças.

“Roma” era um dos filmes com maior número de nomeações mas acabou por arrecadar três estatuetas douradas, incluindo a de Melhor Realizador a Alfonso Cuáron (pela segunda vez) entregue pelo compatriota Guillermo del Toro, que ganhou no ano passado com “A Forma da Água”. No discurso de agradecimento Cuarón agradeceu “à Academia por reconhecer um filme que gira em volta de uma mulher indígena”. Esta representa os vários milhões de trabalhadores que “não têm direitos”, uma personagem que tem sido renegada na história do cinema. O filme venceu também na Fotografia e foi considerado o Melhor Filme Estrangeiro, o primeiro do México e o primeiro produzido pela Netflix.

Entre os inúmeros prémios destaque para o de melhor ator atribuído a Rami Malek, por “Bohemian Rhapsody “de Bryan Singer e o de melhor ator secundário a Mahershala Ali de “Green book – um guia para a vida” de Peter Ferrelly que, como já era previsível, foi considerado o melhor filme. O Óscar para melhor caracterização foi atribuído a mais uma das estreias de fevereiro Vice o novo filme de Adam McKay que traça, com humor, um retrato implacável de Dick Cheney, o influente vice-presidente de George W. Bush.  Christian Bale transfigura-se, fisicamente, ao interpretar a personagem do polémico político num período bastante conturbado da história mundial e, como tal, é justa a atribuição do prémio.

Mas magia do cinema não contempla só as obras oscarizadas e outros filmes merecem referência como o que retrata o fim da carreira de uma das duplas mais emblemática do género de comédia, especialmente nos anos dourados do cinema mudo, Bucha e Estica de Jon S.  Baird. A história, verídica, refere-se ao período em que os dois atores, Stan Laurel e Oliver Hard, representados pelo ator britânico Steve Coogan e pelo ator norte-americano John C. Reilly tentam voltar aos palcos, em 1953, numa tournée na Grã-Bretanha.

Para toda a família e também baseado em factos verídicos, Mia e o leão branco de Gilles de Maistre aborda as relações parentais e a necessidade urgente de preservar a vida selvagem. Por seu turno, Os irmãos Sister de Jacques Audiard passa-se em meados do século XIX, durante a grande expansão para o Oeste americano e a febre do ouro, criando a ilusão perfeita de que estamos nas paisagens consagradas e mitificadas pelo “western”. John C. Reilly e Joaquin Phoenix interpretam Eli e Charlie, os irmãos do título com posturas de vida diferentes pois representam a tensão entre o velho Oeste da violência, do caos e da ausência de lei, e o novo Oeste que está a ser construído baseado na lei e no progresso, focando o filme a importância dos laços familiares e da ordem e paz.

Igualmente sobre a família, mas num ambiente degradado, Cafarnaum de Nadine Labaki é um filme dramático sobre a realidade libanesa que esteve em competição no festival de cinema de Cannes em que, num cenário de pobreza extrema e de destruição, um jovem pretende processar os pais por não terem condições económicas ou emocionais para terem filhos. Ainda sobre laços familiares, Liam Neeson protagoniza mais um filme de ação, neste caso num ambiente gélido das Montanhas Rochosas em Vingança perfeita de Hans Petter Moland combatendo cartéis de droga que assassinaram o filho.

O cinema de animação está sempre presente começando pelo terceiro filme de uma famosa saga inspirada na escritora Cressida Cowell Como treinares o teu dragão: o mundo secreto de Dean DeBlois e Lego 2 de Mike Mitchell, um filme animado de aventuras das famosas construções didáticas em versão dobrada. Para os que apreciam este género é de relembrar que a 18º edição do festival Monstra dedicado ao cinema de animação decorre entre 20 e 31 março com 550 filmes de animação de 50 países assim como exposições, retrospectivas, competições, workshops e momentos que juntam música, poesia e banda desenhada. Nesta edição o festival vai homenagear o cinema de animação do Canadá que como é referido “um dos países onde esta arte é mais forte e cultivada, e também onde estão reunidas todas as condições para a realização de filmes e muita experimentação”.

Realiza-se, igualmente uma homenagem ao realizador japonês Satoshi Kon que faleceu em 2010 com a reposição de quatro longas metragens da sua autoria, produzidas entre 1997 e 2006.  Em simultâneo, em diversos estabelecimentos dos vários níveis de ensino, decorrem as sessões Monstrinhas em que serão exibidos 26 filmes com dobragem em português. As crianças até aos três anos também poderão ter o primeiro contacto com os filmes de animação, neste festival, e de forma gratuita. Já nas cerca de 90 curtas pensadas para toda a família, exibidas aos fins de semana, o diretor artístico chama a atenção para a estreia nacional do filme “Tito e os Pássaros”, que fala sobre o medo infantil.

Também são de relembrar as iniciativas do Cineclube Impala Cine que continua com os ciclos de cinema dedicados a diversos temas sendo que em março o escolhido é relativo às gerações Rock`n Roll com sessões às quintas-feiras no Auditório da Costa de Caparica.

Luísa Oliveira

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O mês de janeiro não deve ser só associado ao anúncio dos candidatos aos Óscares da Academia de Hollywood, cuja cerimónia de entrega de prémios se realizará em 24 fevereiro, pois verificaram-se estreias de qualidade abrangendo vários géneros. No panorama nacional registou-se a estreia comercial de Terra Franca de Leonor Teles, premiado como Melhor Longa Metragem de Ficção no Festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra. Um documentário interessante que retrata a vida solitária e as relações sociais de um pescador numa antiga comunidade piscatória no rio Tejo.

Igualmente com interesse e já apresentado anteriormente no Indie Lisboa, tivemos o documentário Debaixo do céu do realizador Nicholas Oulman sobre refugiados, um tema sempre actual, sendo que nesta obra são apresentados os relatos pessoais de judeus que na fuga ao nazismo passaram por Portugal. O filme é apresentado com imagens de arquivos, nomeadamente de Lisboa, e a identidade dos sobreviventes é revelada só no final.

A memória de infância vivida em regimes totalitários serve de base a Nunca Deixes de Olhar: a arte não tem identidade de Florian Henckel von Donnersmarck que também escreveu o argumento a partir da vida do pintor alemão Gerhard Richter, focando-se na problemática da busca de identidade artística quando as ideologias opressivas limitam toda a criatividade.  Ainda sobre o mundo da arte, estreou-se À porta da eternidade de Julian Schnabel em que Willem Dafoe personifica Vincent Van Gogh, papel que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de melhor ator, pois apresenta de forma convincente a instabilidade mental e a angústia criativa do genial pintor. A instabilidade emocional e o processo de destruição psicológica de uma mulher são protagonizados, de forma exemplar, por Maggie Gyllenhaal no papel de uma educadora obcecada pelas competências de uma criança em A Educadora de infância de Sara Colangelo, remake norte-americano do homónimo filme israelita e que valeu à realizadora o prémio de melhor realização no festival de Sundance 2018 e fez parte da seleção oficial do festival de Toronto.

Também de obsessão e decadência emocional trata o desempenho de Nicole Kidman, irreconhecível fisicamente graças à maquilhagem e efeitos visuais, no trilher angustiante Destroyer – Ajuste de Contas de Karyn Kusama no papel uma ex-agente do FBI e agora detetive da polícia de Los Angeles, dependente de álcool e drogas, procurando vingar-se de um passado que destruiu a sua vida familiar e profissional. Igualmente destacando uma personagem feminina mas, neste caso, histórica, Maria, rainha dos Escoceses de Josie Rourke apresenta Saoirse Ronan no papel da controversa e infeliz Maria Stuart no seu problemático percurso de vida e as lutas políticas com a sua familiar Isabel I de Inglaterra que conduzirão à sua morte.

O polémico realizador M. Night Shyamalan está de volta com Glass que conta com alguns dos seus atores preferidos como Samuel L. Jackson, Bruce Willis e James McAvoy. É o terceiro filme da trilogia “Eastrail 177”, que começou com “O Protegido” e continuou com “Fragmentado” e é mais uma obra explosiva de ação, ficção científica e suspense que junta super-heróis, vilões e que até esta data é o filme com maiores receitas de bilheteira do ano.

A comédia dramática Green Book – um guia para a vida de Peter Ferrelly é uma das favoritas aos prémios da 91.ª edição dos Prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, tendo sido já distinguida com inúmeros prémios por várias associações ligadas à indústria cinematográfica. Nela se relatam factos verídicos numa América da década de 60 do século passado, em que a discriminação racial conduzia a lutas pelo reconhecimento dos direitos civis da comunidade afro-americana.  Mahershala Ali no papel  do pianista clássico afro-americano Don Shirley, e Viggo Mortensen como o seu motorista de origem italiana, Tony Lip, em digressão pelo sul  segregacionista dos Estados Unidos, estão nomeados para os Óscares da representação  pois desempenham de forma muito convincente os contrastes que as personagens apresentam a nível de educação cultura e competências sociais .O título do filme tem como base o livro The Negro Motorist Green Book, editado por Victor Hugo Green entre 1936 e 1966 que servia como guia que ajudava os viajantes negros,  a encontrar restaurantes, alojamentos e locais de diversão onde não havia segregação social.

De uma cinematografia pouco conhecido, a islandesa, tivmos uma agradável comédia negra de Hafstein Gunnar Sigurosson A árvore da discórdia, narrativa sobre situações caricatas envolvendo conflitos causados por uma árvore no jardim de um vizinho num bairro suburbano.

Robert Redford com oitenta e dois anos despede-se do cinema com a belíssima comédia romântica O Cavalheiro com Arma de David Lowery. A partir de factos reais decorridos nos anos 80 do século XX, o ator brilha no papel de Forrest Tucker um discreto e cavalheiresco ladrão, proporcionando momentos divertidos juntamente com os atores Sissy Spacek, Casey Affleck e John Hunt.  No final do filme, como pretexto para referenciar as inúmeras fugas feitas pelo elegante assaltante, há uma interessante montagem de cenas de vários filmes protagonizados por Robert Redford na sua longa e produtiva carreira.

Quem não pretende despedir-se da realização e representação cinematográfica é o excelente Clint Eastwood pois aos 88 anos apresenta mais uma  obra, Correio de Droga, a partir de factos reais da vida de um veterano horticultor, falido e solitário,  que se envolve no submundo do tráfico da droga como forma de salvar o seu negócio e reaproximar-se da família com quem mantinha escassas ligações.  O filme baseia-se no artigo publicado no New York Times Magazine “The Sinaloa Cartel´s 90-Year-Old Drug Mule”, de Sam Dolnick, resultando numa obra sóbria, humana, sem artifícios digitais e, embora o tráfico de droga esteja presente, é, acima de tudo,  um olhar sobre a velhice, meditação e redenção dos erros cometidos ao longo da vida.

Luísa Oliveira

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O mês de dezembro iniciou-se com a atribuição dos prémios relativos à 24ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra, dedicado, exclusivamente, às obras nacionais. O Grande Prémio foi atribuído ao filme Cabaret Maxime do realizador Bruno Almeida que tem como argumento as dificuldades vividas pelo dono de um cabaret devido às mudanças no bairro onde este se localiza e que põe em causa o grupo de artistas que nele trabalha e apresenta números musicais, de burlesco e comédia. Esta obra conquistou ainda os galardões máximos nas categorias de direcção artística, realização, ator secundário e banda sonora. Terra Franca de Leonor Teles, venceu na categoria de Melhor Longa Metragem de Ficção, Entre Sombras de Mónica Santos e Alice Guimarães ganhou prémio de Melhor Animação e Até Que O Porno Nos Separe de Jorge Pelicano o de Melhor Documentário.

Nas estreias em dezembro a produção nacional esteve presente com Parque Mayer de António-Pedro Vasconcelos, uma interessante comédia/drama que revisita um marcante espaço de entretenimento lisboeta num período em que a censura do Estado Novo limitava cada vez mais a liberdade criativa. Quanto às restantes estreias destaque para a obra do cineasta mexicano Alfonso Cuarón que escreveu, realizou e produziu o excelente Roma, vencedor do Leão de Ouro no festival de Veneza e que tem recebido inúmeras críticas positivas perfilando-se como vencedor de vários galardões. O título do filme refere-se a um bairro de classe média na cidade do México, revelando-se como crítica à sociedade mexicana e, especificamente, à posição da mulher, focando, igualmente, a situação política no país na década de 70 do século XX. A belíssima fotografia a preto e branco realça os choques inerentes às desigualdades sociais ao mesmo tempo que é enaltecida a força da mulher que sobrevive às mudanças e aos conflitos.

Igualmente como obra de denúncia social, surge Dogman, do realizador italiano Matteo Garrone, inspirado num caso real, onde sobressai o expressivo ator Marcello Fonte, galardoado no festival de Cannes, no papel de protagonista como um humilde tratador de cães vulnerável aos violentos abusos do criminoso mais temido do decadente bairro periférico que habitam. Retrato humano e de grande realismo de uma sociedade em que a violência impera.

A atriz Keira Knightley protagoniza Sidonie-Gabrielle Colette na obra Colette de Wash Westmoreland – um retrato fiel do ambiente social e cultural da Belle Époque  demonstrando, ao mesmo tempo,  como a intimidade da escritora  vai contribuir   para romper estereótipos sociais e revolucionar a literatura.  Julia Roberts, por sua vez, tem uma brilhante prestação em O Ben está de volta de Peter Hedges, no papel de uma mãe a defender obsessivamente o seu filho toxicodependente; embora a ação decorra na época natalícia é um filme sombrio e triste ao expor o sofrimento dos que têm familiares e amigos envolvidos no submundo da toxicodependência e marginalidade.

Num género diferente e mais de acordo com a leveza da época, temos a divertida comédia dramática francesa, já visionada na Festa do Cinema Francês, Ou nadas ou afundas de Gilles Lellouche, sobre um grupo de homens quarentões que decidem criar uma equipa de natação sincronizada. Igualmente animado e direccionado para quem gosta dos patudos Dog Days – vidas de cão de Ken Marino, sobre um grupo de personagens interligadas com as vidas dos seus cães.

Termino com O Regresso de Mary Poppins de Rob Marshall o filme ideal para divertir toda a família com uma história simples em que a magia, música e animação conduzem a um final feliz tal como tinha sido a primeira versão de 1964.

Luísa Oliveira

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A primeira longa metragem da realizadora Leonor Teles, “Terra Franca”, foi distinguida com Prix de La Ville d’Amiens, no 38.º Festival International du Film d’Amiens, em França, e com o Prémio de Melhor Primeira Obra da Competição Internacional na 33.ª edição do Festival Internacional de Cine de Mar del Plata (Argentina). O filme, cuja estreia está prevista para o próximo mês de janeiro, já tinha recebido vários prémios internacionais e retrata a vida de um pescador que vive numa comunidade piscatória à beira do Tejo. A longa-metragem “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos” de João Salavisa e Renée Nader Messora continua a acumular prémios pois foi também distinguida com o Prémio Especial do Júri no Festival Internacional de Cine de Mar del Plata depois de ter sido duplamente premiada no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro (Melhor Realização e Melhor Fotografia). A estreia, em Portugal, está prevista para março de 2019.

No que respeita a estreias nacionais, a apresentação foi diversificada abrangendo vários géneros cinematográficos. Começo pelo filme de Sérgio Tréfaut Raiva, a adaptação do clássico da literatura portuguesa do século XX, ‘Seara de Vento’ de Manuel da Fonseca. A película foi rodada no Alentejo retratando, num período de fome e violência, um assassinato executado por um camponês e a sua resistência à polícia e exército. Ainda sobre produção portuguesa o documentário Doutores palhaços de Hélder Faria e Bernardo Lopes sobre o emocionante contributo dos que pretendem melhorar o quotidiano de quem vive em ambientes de grande sofrimento.

No mesmo género, A febre Ferrante de Giacomo Durzi sobre a excelente escritora napolitana Elena Ferrante   e a sua pretensão de manter o anonimato enquanto a sua obra delícia milhões de leitores. Igualmente no âmbito da literatura o drama Dovlatov de Aleksey Germna Jr. apresenta seis dias da vida do escritor russo Sergei Dovlatov e a sua preocupação em manter a liberdade artística durante o opressivo regime soviético.

No género terror, uma interessante obra do cinema independente americano, realizada e protagonizada por Aaron Moorhead e Justin Benson, O interminável, debruça-se sobre o tenebroso universo dos cultos e seitas religiosas.  Utoya, 22 julho de Erik Poppe é um filme perturbador sobre o massacre da Noruega em 2011 e que alerta contra a ascensão da extrema-direita europeia, uma obra contra o esquecimento descrevendo o pesadelo que o ódio criou.

Outra excelente e igualmente perturbadora obra, Uma guerra pessoal de Matthew Heineman, baseada em factos reais, retrata a extraordinária vida de Marie Colvin (interpretada por Rosemund Pike), uma das jornalistas de guerra mais reconhecidas do nosso tempo que colaborava com o jornal The Sunday Times. Com um espírito rebelde e insubmisso, arriscando a própria vida, teve como missão de vida dar voz, nos seus artigos jornalísticos, aos que de outro modo nunca teriam forma de ser ouvidos, transmitindo de forma realista e crua o que é viver no meio da guerra até à sua morte em Homs, na Síria em 2012.

Viúvas de Steve McQueen, baseado no livro homónimo de Lynda La Plante, adaptado por Gillian Flynn, com um elenco talentoso em que sobressai Viola Davis, apresenta um grupo de mulheres que pretendem vingar as mortes dos maridos criminosos no meio de violência, racismo e corrupção em Chicago. O tema foi apresentado numa minissérie na TV inglesa em 1983 e adaptado à realidade americana.

O sensível Beautiful Boy, de Felix Van Groeningen, mostra o amor resistente de uma família perante o vício do filho e as tentativas de reabilitação. Baseado nas biografias do jornalista David Sheff e do seu filho, Nic Sheff, apresenta interpretações brilhantes dos atores Steve Carell e Timothée Chalamet, este último no papel do filho na fase em que se torna viciado em metanfetaminas.

A vingança de Lizzie Borden, de Craig Macneill, é um thriller psicológico baseado em factos reais, em que a atriz Chloe Sevigny interpreta o papel de Lizzie Andrew Borden, uma das figuras mais icónicas da cultura popular norte-americana que foi a julgamento   pelo duplo homicídio do seu pai, Andrew J. Borden, e da sua madrasta, Abby Borden, no dia 4 de agosto de 1892.

Mais uma produção francesa de qualidade no thriller dramático Histórias de uma vida de Jean Becher, numa adaptação do romance de Jean-Christophe Rufin, desenrola-se no primeiro pós-guerra em que um cão dá contributo importante para a resolução de um mistério.

O segundo filme da spinoff de Harry Porter constitui um sucesso de bilheteira dos estúdios Warner Bros Monstros Fantásticos – Os Crimes de Grindelwald de David Yates, com Eddie Redmayne que volta para ser o protagonista Newt Scamander na luta contra o poderoso e maléfico feiticeiro Gellert Grindelwald em mais uma obra de fantasia de J. K. Rowling. Na época natalícia é adequado o regresso do duende verde Grinch de Yannow Cheney e Scott Mosie. A história do filme sofre poucas mudanças relativamente à película de 2000, mas é uma criatura mais social e menos assustadora numa película de animação bastante colorida e divertida com Benedict Cumberbatch a dar voz ao Grinch.

Por fim, justifica-se uma menção ao falecimento do polémico e genial cineasta italiano, Bernardo Bertolucci, que realizou inúmeras obras memoráveis além de 1900 e O último imperador, que farão sempre parte da memória do cinema.

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Nas estreias do mês de outubro foram registados documentários de personalidades marcantes de várias áreas. Assim, destaca-se Ingmar Bergman – a vida e obra do génio    de Margarethe von Trotta para relembrar o trajeto de vida do icónico realizador, não só no mundo de cinema como a nível familiar, a que se acrescenta a opinião dos novos cineastas. O documentário insere-se no âmbito das celebrações do centenário do nascimento do realizador que tem como objetivo divulgar a sua magnífica obra.

No que respeita a um mundo em que a criatividade e os excessos estão interligados, McQueen, de Ian Bonhote and Peter Ettedgui  é relembrado a partir de entrevistas a familiares e amigos do inquietante e controverso designer de moda.

Do mundo da música, Bohemian Rapsody de Bryan Singer e Dexter Flecther revê a ascensão da carismática banda musical “Queen” e sobretudo do seu fabuloso vocalista Freddie Mercury. É um excelente pretexto para assistirmos às suas maravilhosas e eternas  canções.

Ryan Gosling representa Neil Alden Armstrong, engenheiro aeronáutico cujo nome ficará para sempre ligado  à exploração espacial, em O primeiro homem na Lua, de Damien Chazelle, filme onde  assistimos ao seu percurso entre 1961 e 1969 quando,  em 20 julho, no âmbito da missão espacial Apollo 11, dá os primeiros passos na Lua.

Feliz Como Lázaro  de Alice Rohrwacher ganhou o prémio para melhor argumento no festival de Cannes é uma comovente obra com uma banda sonora condizente com a realidade rural de uma comunidade isolada, num misto de fábula religiosa e sátira social.

O drama A Mulher de  Bjorn Runge, premiado no festival internacional de filme de Toronto,  baseado na obra homónima de Meg Wolitzer,  apresenta Glenn Close  numa excelente  e emocionante interpretação no papel da mulher de um escritor  famoso que vive durante décadas na sombra do marido, sacrificando o seu talento e ignorando as humilhações de que foi alvo durante o seu casamento até que põe fim ao relacionamento.

Não Deixeis Cair Em Tentação do francês Cédric Kahn, versa questões ligadas à fé e à oração no processo de cura de toxicodependentes numa comunidade religiosa, e valeu  ao  ator Anthony Bajon o Urso de prata no festival de Berlim.

Verão 1993 da catalã Carla Simón é uma comovente obra autobiográfica sobre o processo de adoção e as relações desenvolvidas entre os pais e a criança com situações vividas,  certamente, por muitas famílias no decurso da adaptação à nova realidade familiar.

Pedro e Inês de António Ferreira, adaptação do romance de Rosa Lobato de Faria “A trança de Inês”,  tendo como base a lendária paixão, desenvolve-se ao longo de três épocas diferentes em que a história de amor se repete.

O divertido e intrigante thriller Sete Estranhos no El Royale de Drew Goddard  apresenta um conjunto de estrelas Jeff Bridges, Chris Hemsworth, Jon Hamm, Dakota Johnson e Cynthia Erivo, com boas interpretações de personagens estranhas num hotel  decadente  dividido  ao meio entre os estados de Califórnia e Nevada.

Igualmente divertido  e com alguma ação, Rei dos Ladrões de James Marsh, trata  do assalto do roubo de joias e dinheiro de uma caixa-forte  de Hatton Garden, o maior da história  londrina, em abril de 2015. Este acontecimento que  teve grande repercussão nos media, pois provocou um prejuízo  de 14 milhões de libras, foi protagonizado por homens entre os 59 e 75 anos, alguns reformados, outros com cadastro criminal  e com doenças graves.

Uma obra interessante e verídica sobre  um acontecimento   histórico  da Guerra Fria   Revolução Silenciosa  de Lars  Kraume, adaptação  da obra homónima do escritor alemão Dietrich Garstka, decorre em 1956, na República Democrática Alemã ( RDA). Os alunos de uma escola da cidade de Stalinstadt (actual Eisenhüttenstadt) decidem fazer um minuto de silêncio em homenagem aos que lutaram pela liberdade e foram vítimas da violência das tropas soviéticas que invadiram a Hungria. Mas o simbólico protesto  acaba por ter uma dimensão maior revelando as questões políticas e sociais  da época e a luta dos jovens  pela mudança e resistência às políticas totalitárias.

As películas de terror e de ação  têm sempre muitos fãs como é o caso de  Venom  de Ruben Fleischer, mais uma adaptação de um dos personagens da Marvel,  protagonizado por Tom Hardy no papel do jornalista Eddie Brock que entra em contato com um  alienígena e se torna Venom. Mas, sem dúvida, que este género que apresenta ambientes de tensão e de medos está bem representado  no interessante  thriller Halloween  de  David Gordon Green em que Jamie Lee Curtis  volta a personificar   Laurie Strode  na continuação de factos ocorridos em 1978 .  Passados 40 anos sobre a estreia do clássico de John Carpenter  que, além de produtor executivo  é também o autor da banda sonora, regista-se o confronto decisivo e final  entre Laurie Strode, a sobrevivente do massacre das “babysitters” de 1978, e Michael Myers, o assassino silencioso.

Luísa Oliveira

 

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A produção cinematográfica nacional teve mais um reconhecimento pois o filme  Diamantino, a primeira longa- metragem de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, venceu o Grande Prémio da 57ª Semana da Crítica da 71ª edição do Festival de Cinema de Cannes. Conforme comunicado pela produtora, enquanto se aguarda a sua estreia comercial, o filme conta “a história de Diamantino, interpretado pelo ator Carloto Cotta, uma superestrela do futebol mundial, cuja carreira cai em desgraça… à procura de um novo objetivo para a sua vida, Diamantino entra numa odisseia delirante, que envolve neofascismo, crise dos refugiados, modificação genética e a busca pela origem da genialidade”. Ainda sobre o mundo futebolístico, é de referir a estreia de Ruth de António Pinhão Botelho, uma abordagem interessante sobre os costumes e vivências de Portugal durante a ditadura salazarista, tendo como pretexto a história da contratação do futebolista Eusébio pelo Benfica.

Os conflitos mundiais continuam com adaptações no cinema, sendo que a 1ª guerra mundial está presente no intenso e belíssimo melodrama franco-alemão de François Ozon, Frantz. Baseado no filme de 1932 realizado por Ernst Lubitsch “O homem que eu matei”, é uma obra apresentada a preto e branco com excelentes interpretações e banda sonora adequada que realçam o luto e o sentimentalismo feminino. De igual forma, a 2ª guerra mundial é um tema recorrente que se pode ver em Os invisíveis de Claus Rafle, um drama com caraterísticas de documentário que decorre em Berlim num período em que a cidade é declarada pelos nazis “livre de judeus”. No entanto, centenas conseguiram escapar às perseguições apresentando-se, nesta obra, os testemunhos de quatro dos sobreviventes, de como viveram a sua vida de adolescentes e jovens adultos num contexto terrível.

O período após a 2ª guerra mundial serve de base ao filme Sociedade literária da tarte da casca da batata de Mike Newell, uma história comovente e deliciosa a partir do livro de Mary Ann Schaffer e Annie Barrows. Nesta excelente película, realça-se importância das relações baseadas na amizade, no amor e na paixão pelos livros que se desenvolvem durante a ocupação alemã da ilha de Guernsey (Canal da Mancha) entre 30 junho de 1940 e 9 maio de 1945 e que constituíram uma forma de resistência.

Também como reflexo de conflitos armados, Refugiados do irreverente artista chinês Ai Weiwei revela-se como um emocionante documentário sobre uma trágica realidade global atual que movimenta milhões de seres. A equipa de filmagem visitou 40 campos de refugiados em 23 países e, entre as afirmações de Ai Weiwei, destacam-se “Este é o meu trabalho: dar voz aos que não têm como falar… Eu tinha muita curiosidade sobre as 65 milhões de pessoas que perderam suas casas em conflitos e desastres naturais. Vê-las sem rumo é muito chocante. Ao mesmo tempo, a resposta europeia é igualmente chocante, pois eles não fazem muito para ajudar”.

Ainda sobre situações problemáticas globais Nunca estiveste aqui de Lynne Ramsay, adaptação do romance homónimo de Jonathan Ames, foca o mundo tenebroso do tráfico humano, tendo ganho no festival de Cannes de 2017 o prémio de melhor argumento e o protagonista, Joaquim Phoenix, o de melhor ator. Outra temática atual, 17 rapariga das irmãs Muriel e Delphine Coulin acaba por ser um filme que provoca um debate sobre a temática da gravidez na adolescência e a reação dos pais e professores à situação. Baseado num caso real ocorrido numa escola dos E.U.A. em 2008 em que dezassete adolescentes decidem engravidar ao mesmo tempo, a ação foi adaptada a uma cidade francesa  constituindo uma reflexão sobre situações vividas por muitos adolescentes.

Ainda sobre ligações humanas, Só te vejo a ti de Marc Forster é um interessante thriller psicológico em que Blake Lively e Jason Clarke protagonizam um casal cuja relação amorosa vai ser posta à prova após a mulher recuperar a visão que tinha perdido devido a um acidente rodoviário. Ordem divina de Petra Volpe, filme selecionado pela Suíça para concorrer ao Óscar de melhor filme estrangeiro, está centrado na luta pela igualdade de direitos para as mulheres na Suíça que, surpreendentemente, só tiveram direito a votar a partir de 1971. Baseia-se nas reações de familiares, amigos e conhecidos à luta pública de uma mulher pelo reconhecimento do direito ao voto feminino que os homens vão votar em 7 fevereiro de 1971.

O realizador Mike Newell regressa, em filme com argumento de Kevin Hood e Thomas Bezucha, interpretado por Lily James, Michiel Huisman e Matthew Goode, para contar a experiência de uma jornalista na pesquisa para um livro sobre a ocupação nazi de Guernsey, uma das ilhas do Canal da Mancha, entre o Reino Unido e França. E o que começou como correspondência com a sociedade literária local e prosseguiu com uma visita à ilha transforma-se num retrato que envolve vários dos habitantes numa história de amizade e solidariedade.O realizador Mike Newell regressa, em filme com argumento de Kevin Hood e Thomas Bezucha, interpretado por Lily James, Michiel Huisman e Matthew Goode, para contar a experiência de uma jornalista na pesquisa para um livro sobre a ocupação nazi de Guernsey, uma das ilhas do Canal da Mancha, entre o Reino Unido e França. E o que começou como correspondência com a sociedade literária local e prosseguiu com uma visita à ilha transforma-se num retrato que envolve vários dos habitantes numa história de amizade e solidariedade.O cinema francês está representado na sátira ao ensino em Madame Hyde de Serge Bozond com Isabelle Huppert, contemplada com o prémio de melhor atriz no festival de Locarno, no papel de uma professora que após ser atingida por um raio desenvolve poderes misteriosos que a transformam totalmente a nível pessoal e profissional. Os fãs dos géneros de terror e de ficção científica devem apreciar Um lugar silencioso de John Krasinski que, num misto do suspense de Hitchcock e do universo Alien, é considerado uma parábola da realidade atual americana ao descrever um mundo apocalíptico em que qualquer som pode chamar seres alienígenas aterradores. Sobre personalidades americanas, LBJ, de Robe Reiner com Woody Harrelson no papel do 36º presidente americano, é um relato da vida política de Lyndon B. Johnson durante a sua permanência no Senado, como vice-presidente de John F. Kennedy e presidente após o assassinato deste em 22 novembro 1963.

Por fim, surgiu nos ecrãs o aguardado Han Solo, uma história da Star Wars de Ron Howard sobre a juventude de um dos mais icónicos rebeldes do cinema. Alden Ehrenreich substitui Harrison Ford na personagem que faz parte da saga que movimenta milhões de fãs e que já pertence ao imaginário popular desde os anos 70 do século XX. Mais uma obra a demonstrar como a magia do cinema une várias gerações e contínua presente ao longo do tempo.

Luísa Oliveira

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O mês de março iniciou-se com 90ª edição da cerimónia dos Óscares da Academia de Hollywood que decorreu no Dolby Theatre, em Los Angeles, apresentada por Jimmy Kimmel. Não houve muitas surpresas nos prémios atribuídos nas várias categorias tendo o realizador mexicano Guillermo Del Toro sido o grande vencedor pois não só foi galardoado com a estatueta para Melhor Realizador como também arrebatou o Óscar de Melhor Filme para A Forma da Água que ganhou quatro estatuetas das treze para que estava nomeada. De registar um feito inédito pois é a quarta vez em cinco anos que um realizador mexicano vence o Óscar para Melhor Realizador com Alfonso Claro em 2014 e Alejandro G. Iñarritú em 2015 e 2016.

Três Cartazes à Beira da Estrada perdeu muitos dos prémios para os quais estava nomeado mas levou dois Óscares em categorias fundamentais: Melhor Atriz para a talentosa Frances McDormand e Melhor Ator Secundário para Sam Rockwell. Na corrida por Melhor Atriz Secundária a vencedora foi Allison Janney, com a sua interpretação brilhante em Eu, Tonya sendo o Melhor ator para Gary Oldman na personagem de Winston Churchill na Hora mais negra. James Ivory também confirmou as previsões ao ganhar o Óscar para Melhor Argumento Adaptado com Chama-me Pelo Teu Nome, enquanto Jordan Peele se tornou o primeiro afro-americano a receber a estatueta de Melhor Argumento Original por Foge. Em termos técnicos, Blade Runner 2049 e Dunkirk foram os mais contemplados, enquanto Coco levou duas estatuetas para Melhor Filme Animado e Melhor Canção Original.

Mas nem todos os filmes de qualidade são contemplados com estes ambicionados prémios, como foi o caso de uma das estreias de março, a comédia dramática Lady Bird de Greta Gerwig candidata em cinco categorias. Um filme de grande sensibilidade já contemplado com prémios de diversos organismos e valorizado pela excelente interpretação de Saoirse Ronan de uma jovem da Califórnia a “crescer” e com uma ligação conflituosa com a mãe numa época de crise económica.

Portugal também tem os seus prémios de cinema e neste ano os Prémios Sophia da Academia Portuguesa de Cinema teve a cerimónia em 25 março, conduzida pela atriz Ana Bola no Casino Estoril. O filme São Jorge de Marco Martins venceu em sete das catorze categorias para que estava nomeado tornando-se, assim, o grande vencedor desta 6ª edição. E, conforme afirmou o premiado realizador no discurso de agradecimento, a sua obra retrata “a primeira crise da minha geração e todos os dias havia direitos que pareciam que nos eram retirados. Aquele filme é sobre a crise e sobre a minha crise, a nossa crise”…“espero que estes prémios ajudem a aproximar o público dos filmes portugueses”. Além dos prémios habituais ligados à produção cinematográfica foram ainda atribuídos três prémios de carreira à caracterizadora Ana Lorena, ao realizador e ensaísta Lauro António e ao realizador Artur Correia, recentemente falecido.

Prosseguindo a valorização da produção cinematográfica nacional, em março, estrearam-se obras que merecem referência. Ramiro de Manuel Mozos, apresentado na abertura do Doc Lisboa, é uma comédia melancólica sobre a resistência e a não adaptação às mudanças verificadas na cidade de Lisboa a partir das vivências quotidianas de uma personagem depressiva interpretada por António Mortágua. Colo de Teresa Villaverde que também foi produtora e argumentista é, lê-se na nota de divulgação, “uma reflexão muito atual, e quase serena, sobre o nosso caminho comum como sociedades europeias de hoje, sobre o nosso isolamento, a nossa perplexidade perante as dificuldades que nos vão surgindo, sobre a nossa vida nas cidades e dentro das nossas famílias. É um filme em tensão crescente que nunca chega a explodir”. Esta obra venceu o Prémio Sauvage, principal galardão do 13.º Festival “L’Europe Autour de l’Europe”, em Paris.

Aparição de Fernando Vendrell leva-nos à redescoberta do grande escritor da literatura portuguesa – Vergílio Ferreira. O filme situa-se em Évora, cidade claustrofóbica onde o próprio Vergílio Ferreira foi colocado como professor nos anos 50 do século passado e onde se desenvolvem relações que terminam de forma trágica. Os documentários são sempre obras relevantes e assim o demonstra No Intenso Agora de João Moreira Salles, uma mistura de imagens pessoais da mãe do realizador com outras de arquivo que fazem parte de acontecimentos marcantes do século XX. Assim vemos um conjunto de imagens que documentam as lutas e protestos conduzidos por populares nas ruas de vários países como em maio de 1968 na França e Checoslováquia, da revolução cultural chinesa em 1966 e da resistência contra o golpe militar no Brasil nos anos 1960.

Outra obra que trata um tema de caráter internacional Mark Felt – o homem que derrubou a Casa Branca de Peter Landesman conta a história da vida privada e profissional do denunciante secreto do escândalo Watergate que transmitiu informações aos jornalistas do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, que levaram à demissão do presidente americano Richard Nixon em 9 agosto de 1974. A identidade deste denunciante só foi conhecida através de um artigo da Vanity Fair em 2015 em que Mark Felt, vice-presidente do FBI, se apresenta como o homem que arriscou a sua vida pessoal e profissional em defesa da verdade.

Sobre conturbados percursos pessoais em que a resiliência está presente, Marvin de Anne Fontaine é uma adaptação do romance autobiográfico e best-seller “en finir avec Eddy Bellegueule” de Edouard Louis, uma emocionante história de como o autor consegue sobreviver às perseguições na escola e ao perturbado ambiente familiar tornando-se um reconhecido escritor e ator. É um filme que parte da relação do passado com o presente para demonstrar a ascensão social de um jovem homossexual pobre, rejeitado e humilhado na região onde nasceu.

Ainda outra obra francesa admirável e emocionante é Passo a passo de Mehdi Idir, baseada na autobiografia de Grand Corps Malade que também participou na realização. Escrita por Fabien Marsuad, em 2012, como agradecimento a todos os que o ajudaram na sua recuperação após um acidente que o deixou praticamente paraplégico. É uma obra que representa um hino à vida pois, ao apresentar o seu processo de reabilitação, passa a fazer parte de um conjunto largo de pessoas que apesar das suas limitações e lutas diárias não perdem o humor e a esperança.

Diferente desta perspetiva de vida, Com paixão de James Marsh é um drama biográfico sobre a verdadeira odisseia do velejador amador Donald Crowhurst, protagonizado por Colin Firth, que competiu na Golden Globe Race de 1968, na esperança de se tornar a pessoa sozinha mais rápida a circum-navegar o mundo sem paragens. O seu barco, Teignmouth Electron, não tinha condições para tal empreendimento nem o próprio velejador estava preparado a nível físico e psíquico envolvendo-se num conjunto de mentiras e ilusões quando toma conhecimento de que poderá ser o vencedor. O filme apresenta-se assim como uma reflexão sobre os dilemas, limites e a condição do ser humano.

Por fim, a ficção científica de Steven Spielberg em Ready Player One: Jogador 1,  a partir da adaptação do livro de Ernest Cline é, sobretudo, uma belíssima viagem nostálgica à década de 80 do século XX. É gratificante rever os elementos que faziam parte da cultura de massas da época a que se juntaram as inovações tecnológicas pois foi rodado em 3D. A ação frenética, apresentada como num jogo de vídeo tanto no mundo virtual como no real, representa um excelente entretenimento, o que constitui afinal um dos objetivos do cinema.

Luísa Oliveira

 

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O período anterior à cerimónia dos Óscares é caracterizado pela estreia de algumas obras candidatas aos ambicionados prémios. Em fevereiro entre essas estreias destaca-se A forma da Água de Guillermo del Toro com treze candidaturas aos galardões máximos e que tem acumulado inúmeros prémios, embora o realizador tenha sido acusado de plágio. Mas, apesar disso, é uma agradável fábula romântica sobre a relação especial, em plena guerra fria, de dois seres de espécies diferentes, uma mulher muda, empregada de limpeza num laboratório governamental secreto e um ser anfíbio capturado na Amazónia que vive num tanque de água e será alvo de experiências científicas. O enredo é protagonizado por Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer e Michael Stuhlbarg num ambiente em que os cenários reconstituem, de forma convincente, a atmosfera da época, os anos sessenta do século XX.

Igualmente candidato aos Óscares com seis nomeações, Linha fantasma marca o regresso de Paul Thomas Anderson numa obra em que se destaca a interpretação exemplar de Daniel Day-Lewis como Reynolds Woodcock, uma excêntrica figura da alta-costura britânica da década de 50, criada pelo realizador mas inspirada em criadores da moda europeia e americana. É uma belíssima obra com um enredo emocionalmente inquietante e intrigante que se desenvolve num ambiente de luxo e glamour na cidade de Londres no período pós guerra com uma adequada banda sonora do guitarrista  Jonny Greenwood.

Com três nomeações o drama,  Eu, Tonya de Craig Gillespie relata factos verídicos que envolveram  a  patinadora artística americana Tonya Harding na agressão à sua rival, Nancy Kerrigam, antes das Olimpíadas de inverno de 1994, em Lillehammer. A australiana Margot Robbie, no papel da patinadora que acabou por ser irradiada da patinagem artística, está nomeada para o Óscar de Melhor Atriz, enquanto  Allison Janney é  favorita para o Óscar de Melhor Atriz Secundária, no papel da  sua  abusiva mãe . As suas excelentes interpretações  valorizam um enredo de personagens absurdas em que sobressaem  os abusos  físicos e psicológicos  de que a patinadora era vítima  por parte da mãe e do marido.

Também baseado em factos reais que envolveram violência, Todo do Dinheiro do Mundo de Ridley Scott é inspirado na história do sequestro em julho de 1973, por mafiosos italianos, do adolescente John Paul Getty III, neto do magnata americano do petróleo John Paul Getty, interpretado por Christopher Plummer com nomeação para o Óscar de melhor ator secundário. O filme narra as tentativas desesperadas da  mãe do adolescente  em convencer o intransigente  avô bilionário  a pagar a elevada quantia exigida como resgaste,  assim como a relação que o refém vai estabelecer com um dos seus sequestradores.

Numa vertente diferente e sendo considerado um dos melhores filmes da temporada, temos um olhar real e duro sobre a América atual  em The Florida Project  de Sean Baker , sobre os  que não vivem o “sonho americano“ e que lutam, todos os dias, para sobreviver. Com interpretações realistas de atores estreantes destaca-se o veterano Willem Dafoe, candidato ao Óscar de melhor ator secundário, no papel de um gerente que tenta conciliar os valores humanitários com as preocupações económicas. Ainda sobre a América e a atualidade, o grande mestre do cinema clássico americano, Clint Eastwood, recria em 15:17 Destino Paris, a história verídica de três jovens americanos banais  que, em viagem pela Europa, se transformaram em heróis com um ato de coragem  impedindo um ataque terrorista  em 21 agosto de 2015. O filme demonstra como as pessoais consideradas normais são capazes de comportamentos excecionais em determinadas circunstâncias. É uma obra agradável em que três amigos se interpretam a si próprios com grande autenticidade fazendo esquecer que não são atores.

De super heróis trata o mais recente filme da Marvel Studios,  Black Panther  de Ryan Coogler, uma autêntica celebração da cultura  negra. Desde a sua estreia que se tem afirmado como um filme bastante rentável com um elenco de excelentes atores negros num enredo que explora a cultura e mitologia negra e a valorização das suas raízes. Ao longo da ação afirma-se também como uma obra inovadora e criativa que apresenta questões políticas, sociais e culturais, pois estão presentes as críticas e comentários à vida da comunidade afro-americana na atualidade.

Por fim,  é também digno de menção o filme português Amor, Amor, a segunda longa metragem de ficção de Jorge Cramez , referida como  “uma comédia dramática de enganos  sobre dois casais“ em que o fascínio e a provocação estão presentes.

Luísa Oliveira

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Como é de conhecimento geral, nos dois primeiros meses de cada ano desenrola-se a temporada de prémios cinematográficos que são indicadores das inclinações de voto para os troféus mais desejados, os Óscares da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Este ano a cerimónia de um dos maiores acontecimentos dos média a nível global está prevista para 4 março com apresentação de Jimmy Kimmel. O filme com mais nomeações, treze no total, A Forma da água de Guillermo del Toro só estreia a 1 fevereiro e, por isso, será referido nas próximas Fitas.

Mas em janeiro, houve estreias que têm tido grande reconhecimento internacional, como é o caso do excelente Três cartazes à beira da estrada de Martin McDonagh, com Frances McDormand numa magistral interpretação de uma mãe que usa os três cartazes para denunciar o péssimo trabalho da polícia na investigação da violação e homicídio da sua filha. É uma forte candidata ao prémio para melhor atriz sendo que esta obra emotiva apresenta sete nomeações.

Outra excelente candidata a este prémio, Meryl Streep, premiada com a sua 21ª nomeação, brilha num filme com caráter histórico no papel de Katharine Graham, proprietária do jornal The Washington Post em The Post de Steven Spielberg. Este carismático realizador apresenta uma obra clássica sobre a história por trás da decisão do referido jornal de publicar, contra a vontade do presidente Richard Nixon, os documentos ultra-secretos denominados Papéis do Pentágono, com informações que comprometem as ações dos EUA durante a Guerra do Vietname.

Igualmente de grande qualidade, temos mais uma adaptação cinematográfica de um episódio crucial da 2ª guerra mundial – A hora mais negra de Joe Wright, focando as dificuldades vividas pelo primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, quanto às decisões adequadas a tomar e que vão marcar o desfecho do conflito. Gary Oldman tem uma prestação excelente na figura do icónico político o que lhe tem valido vários prémios sendo também candidato ao Óscar de melhor ator.

Com quatro nomeações para os Óscares, o revoltante drama Mudbound – as lamas do Mississipi de Dee Rees, em que Rachel Morrison, diretora de fotografia, se tornou primeira mulher a ser indicada nesta categoria.  Baseado no livro de Hillary Jordan, a ação desenrola-se no período pós 2ª guerra mundial e demonstra o preconceito e racismo de uma comunidade americana ignorante que não aceita a amizade de dois veteranos de guerra, um branco e outro negro, marcados pelos momentos terríveis que viveram durante o conflito. Da realizadora de Singapura Kirsten Tan uma comédia dramática insólita mas cativante pela sua simplicidade e valorização da amizade e memória surge-nos Pop Aye,

Prémio Especial do Júri do festival de Sundance e no Festival de Roterdão Prémio VPRO Big Screen. James Franco realizou Um desastre de artista, a história tragicómica de Tommy Wiseau, numa obra sobre sonhos que parecem ser impossíveis de realizar, a partir do best-seller de Greg Sestero que descreve a preparação de The Room (“The Greatest Bad Movie Ever Made”), considerado uma “obra maldita” mas que, ironicamente, se tornou um filme de culto.

O argumentista Aaron Sorkin estreia-se na realização com a história real de Molly Bloom, a chamada “princesa do poker” que se evidenciou numa atividade exclusivamente masculina em que se movimentam apostas milionárias. O jogo de alta roda, baseado no livro de Molly Bloom, demonstra como a ambição e sucesso podem estar ligadas ao submundo do crime organizado. Liam Neeson protagoniza mais um filme de acção e suspense em The commuter – o passageiro de Jaume Collet-Serra. É um filme com traços idênticos a outros deste ator mas que é do agrado de algum público.

A vitalidade do cinema turco destaca-se numa obra que agradará aos amantes de animais em Gatos de Ceyda Torun, uma história original que, partindo da descrição do quotidiano de grupos de felinos que povoam a cidade de Istambul, é uma forma interessante e diferente de olhar para esta cidade.

Por fim, relembro que o Cineclube da Gandaia, no centro comercial O pescador na Costa de Caparica anima todas as quintas-feiras o auditório com obras cinematográficas com início às 21:00 horas e em fevereiro apresenta o ciclo When Tim meets Johnny, que celebra o trabalho conjunto do realizador Tim Burton com o ator Johnny Depp. Além do visionamento das obras há um pequeno debate e bibliografia sobre a obra a visionar.

Luísa Oliveira

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Em nove de dezembro, na 30ª edição dos Prémios da Academia Europeia de Cinema realizada em Berlim, o filme O Quadrado do sueco Ruben Östlund foi distinguido em seis categorias, incluindo Melhor Filme e Melhor Realizador. Esta obra que continua em exibição nos cinemas portugueses já tinha sido reconhecida com a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes. Na categoria de Melhor Filme de Animação foi distinguido A Paixão de Van Gogh feito a partir de mais de 65.000 pinturas a óleo, recriando o traço impressionista do pintor holandês e na de Melhor Documentário “Communion”. O prémio de Descoberta Europeu foi para Lady Macbeth de William Oldroyd.

Quanto às estreias do mês, verificou-se um conjunto de filmes de qualidade dirigidos a públicos diversos. Começo com o aguardado e muito desejado pelos inúmeros fãs da saga iniciada por George Lucas Star Wars: Episódio VIII: Os Últimos Jedi, escrito e realizado por Rian Johnson. O certo é que este novo capítulo não desilude com um final intenso e arrebatador que compensa todo o tempo de espera . Igualmente uma prenda para os apreciadores de Woody Allen, Roda Gigante é uma obra melancólica ao estilo deste realizador sobre frustrações amorosas tendo como local de ação um parque de diversões em Coney Island nos anos 50. Com um argumento emotivo a partir do best-seller de R.J. Palacio, Stephen Chbosky realizou Wonder – Encantador sobre a entrada na escola pública de uma criança com o rosto deformado. Embora seja um tema delicado é apresentado sem melodramas revivendo-se a magia da infância.

Outro olhar sobre a infância é o que sobressai em mais uma obra ligada a factos trágicos da 2ª guerra mundial, neste caso, ocorridos durante a ocupação nazi de França em Os meninos que enganavam os nazis de Christian Duguay. Baseado no livro autobiográfico de Joseph Joffo publicado 1973, a coprodução francesa e canadense mostra como este, por decisão familiar, é obrigado a fugir de Paris com o irmão mais velho com o objectivo de evitarem o transporte para um campo de concentração. Assistimos à reconstrução de factos históricos durante a jornada dos irmãos pelo interior do país pautada pela coragem e amor numa época marcada pela intolerância e medo. E, apesar do final triste o filme transmite a esperança de que a união da humanidade contribui para dominar o mal.

Igualmente focando acontecimentos históricos terríveis do genocídio arménio perpetrado pelos turcos, temos outro filme de grande qualidade A Promessa de Terry George. É uma obra romântica que retrata, fielmente, os factos relacionados com o que é considerado o primeiro genocídio do Século XX que decorreu durante a 1ª guerra mundial num período de desmoronamento do império turco otomano. A casa torta,  de Gilles Paquet – Brenner, baseado numa obra de Agatha Christhie, é um policial  com cenários e guarda roupa que reproduzem com exatidão o ambiente do Reino Unido nos anos 50. É uma obra bastante agradável com muitas surpresas  no enredo o que leva  a um suspense contínuo até ao final surpreendente. Igualmente com uma excelente recriação dos anos 50 Suburbicon de George Clooney e argumento original dos irmãos Joel e Ethan Coen, que mais uma vez representa uma crítica à sociedade americana que não presta atenção aos verdadeiros problemas sociais. Com algum humor são apresentados dois enredos paralelos focando o racismo numa comunidade americana e o mistério que envolve um crime com destaque para a interpretação de Matt Damon na personagem principal.

Um bom entretenimento O grande Showman de Michael Gracey é um musical realizado a partir de uma história verídica protagonizado por Hugh Jackman como P. T. Barnum, visionário que, criando um grande circo, contribuiu para o aparecimento do show business. Num ritmo acelerado acompanhado por belas obras musicais são apresentadas diferentes e exóticas personagens no meio de cenários magníficos transmitindo a beleza e magnificência do espetáculo artístico.

Por fim, a maravilhosa fábula Paddington 2 de Paul King é a continuação da adaptação dos livros de Michael Bond ligados ao imaginário dos animais que falam. Ben Whishaw volta a dar voz ao irrequieto ursinho numa obra agradável e descontraída,  mais um exemplo da magia do cinema.

Luísa Oliveira

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No conjunto das estreias de novembro o destaque vai para o documentário apresentado em sessões especiais Rosas de Ermera de Luís Filipe Rocha. Relato verídico do período da 2ª guerra mundial em que Timor foi invadido por tropas japonesas e os pais e irmã do cantor de resistência e intervenção José Afonso foram internados num campo de concentração. Com imagens de arquivo e testemunhos dos irmãos do cantor é uma forma emotiva de revisitar e reviver esse período, tanto em Timor como na metrópole salazarista.

Igualmente muito interessante é Peregrinação de João Botelho, adaptação da obra homónima de Fernão Mendes Pinto, impressa pela primeira vez em 1614, com as aventuras no oriente apresentadas numa mistura de fantasia e realidade, em ambientes fantásticos e misteriosos valorizados pela excelente fotografia a que se junta coros como elementos enriquecedores.

Nas estreias do mês destaque ainda para o filme que lidera as nomeações para os prémios da Academia Europeia de Cinema, a entregar em 09 de dezembro, O Quadrado do sueco Ruben Ostlund, galardoado com a Palma de Ouro do último Festival de Cannes. Inspirado em algumas situações reais vividas pelo realizador, esta sátira desenrola-se no espaço de um museu enquanto decorre uma instalação de arte contemporânea e, segundo aquele, deve ser analisada numa perspetiva sociológica para se concluir o que falha no ser humano, neste caso, a degradação progressiva do curador da exposição com tudo o que o rodeia.

Também de degradação, mas social, a brilhante comédia apresentada em tom teatral e que termina em tragédia A Festa de Sally Potter, produzida pela BBC com excelentes interpretes, como Kristin Scott Thomas, apresenta um pequeno grupo de sete pessoas da classe média-alta cujas atitudes representam uma metáfora da actual  situação sócio-política da Inglaterra.

Tivemos Um Crime no Expresso do Oriente de Kenneth Branagh, realizador e protagonista nesta nova adaptação do policial clássico de Agatha Christie. Nesta obra, porém, além de algumas alterações à narrativa original, o carismático detective belga, Hercule Poirot, surge totalmente descaraterizado e ridículo, completamente diferente da personagem original da autora, valendo o filme apenas pelos excelentes atores que fazem parte do elenco.

Várias estreias mostraram argumentos sobre resistência e resiliência de quem viveu situações traumáticas. David Gordon Green em Stronger – a força de viver trata uma temática ligada ao terrorismo, o atentado de 15 de Abril de 2013 na maratona de Boston. Baseado no livro de memórias de Jeff Bauman que perdeu ambas as pernas no atentado mas que ajudou a encontrar um dos terroristas, demonstra o efeito que o acontecimento teve na sua vida e na dos seus familiares. Os atores Jake Gyllenhaal e Tatiana Maslany transmitem na perfeição a angústia vivida por Jeff no seu quotidiano como deficiente mas também a sua superação física e emocional transmitindo uma mensagem de esperança.

Com a mesma finalidade Vive de Andy Serkis, produzido por Jonathan Cavendish, retrata as vivências resultantes do facto do seu pai, Robin Cavendish, ter contraído poliomielite aos 28 anos. Além da história de amor e de ânimo dos pais do produtor perante a adversidade, também tem um objectivo informativo pois valoriza o contributo de Robin Cavendish para a melhoria das condições de tratamento de quem sofria as mesmas limitações causadas pela doença.

Focando também as consequências de doenças terríveis no seio familiar  Um Homem de Família de Mark Williams conta com Gerard Butler no papel do protagonista que altera a sua perspectiva do mundo quando vê o filho de 10 anos, Ryan (Max Jenkins), ser internado com leucemia. A montanha entre nós de Hany Abu-Asad é mais um argumento sobre o instinto de sobrevivência em condições adversas com adaptação da obra homónima de Charles Martin. Enriquecido pelas interpretações da oscarizada Kate Winslet e Idris Elba que juntam esforços para sobreviverem num ambiente hostil após um trágico acidente de avião.

Marcas de guerra de Jason Hall apresenta factos reais vividos por milhares de combatentes, neste caso soldados americanos que combateram no Iraque, ao ingressarem na vida civil e a forma como têm de viver com os traumas de guerra. Shot caller – sobreviver a todo o custo de Ric Roman Waugh retrata a realidade do ambiente violento e aterrador do meio prisional. Protagonizado, de forma exemplar, por Nikolaj Coster- Waldau o realizador pesquisou e contactou durante vários anos os elementos desse meio para realizar um drama contra um sistema que leva muitos prisioneiros à degradação moral e a transformarem os seus percursos de vida para sobreviverem.

E porque nunca é demais esquecer os ideólogos do mal mas, sobretudo, os que lutaram  contra o terror  nazi defendendo o direito à liberdade, temos  O homem do coração de ferro de Cédric Jimenez, denominação atribuída por Hitler à terrível figura emblemática do nazismo: Reinhard Tristan Eugen Heydrich. O filme descreve a sua ascensão nas tenebrosas  SS e a forma como  espalhou o terror por onde passava até à sua morte com 38 anos de idade em maio de 1942, vítima de um atentado em Praga organizado pela Operação Antropóide. Este acontecimento idealizado por Winston Churchill e por um pequeno grupo da Resistência Checa e dirigido por membros do governo checolosvaco no exílio foi posto em prática por Jan Kubis e Jozef Gabci. No entanto, a morte de Reinhard Heydrich desencadeou uma terrível sequência de massacres perpetuados pelos nazis com destaque para o que teve como alvo a destruição sangrenta da aldeia de Lídice.

Com a aproximação da época natalícia, surgem mais filmes direcionados para o público  infantil / juvenil, como é o caso do colorido  Coco de Lee Unkrich e do artista gráfico Adrian Molina. É uma maravilhosa obra animada da Disney Pixar, que valoriza os costumes e tradições mexicanas a partir da viagem de uma criança com o seu companheiro canino ao mundo dos mortos. Não é uma obra assustadora, muito pelo contrário, pois apresenta-se divertida, animada, com cenários mágicos, realçando os sonhos de criança e o respeito e valorização da família, o que condiz com a época festiva.

Termino salientando que em novembro, além das estreias, também se verificou reconhecimento de obras nacionais em acontecimentos cinematográficos internacionais. A primeira longa-metragem de ficção do realizador português Pedro Pinho A fábrica de nada  recebeu o Prémio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Sevilha que se vem juntar a outros galardões, nomeadamente, os Prémios do Público  no Festival Ficvaldivia, no Chile, CineVision no Filmfest München, de Melhor Realização no Duhok IFF’17, do Júri no CineFest Miskolc Internacional Film Festival’17 e o da Crítica no Festival de Cannes.  Também o filme Farpões Baldios de Marta Mateus, que reflete sobre ruralidade e trabalho, já tinha vencido o Grande Prémio do Curtas Vila do Conde- Internacional Film Festival conquistou o Grande Prémio do Hiroshima International Film Festival, no Japão.

Luísa Oliveira

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Os fãs de ficção científica há muito que aguardavam a estreia de Blade Runner 2049 de Dennis Villeneuve, 35 anos após o filme de culto realizado por Ridley Scott .  Mas a espera valeu a pena pois a magia do cinema continua nos 163 minutos desta obra que apresenta agora Ridley Scott como produtor, continuando a personagem de Harrison Ford  assim como o   mesmo ambiente soturno  e claustrofóbico de Los Angeles, com a excelente banda sonora a contribuir para a atmosfera assombrada  da cidade. No meio de paisagens futuristas, fruto de fotografias espectaculares, mantem-se a questão filosófica sobre as noções de realidade e definição do ser humano a que se junta a de paternidade.

Outra estreia a salientar devido ao modo criativo como combina atores, tecnologia digital e imagens pintadas a óleo sobre tela por 120 artistas é  A Paixão de Van Gogh, animação de longa-metragem do inglês Hugh Welchman e da polaca Dorota Kobiela,  com um enredo passado após a morte do carismático pintor  partindo de um  inquérito  às circunstâncias  em que a mesma ocorreu. Assim, nesta obra denominada ”a primeira longa metragem totalmente pintada do mundo”, em que se especula acerca da explicação aceite  sobre o acontecimento, os realizadores pretenderam preservar a autenticidade estética dos quadros, utilizarando técnicas morosas e pouco convencionais pelo que, a realização demorou 5 anos.

Mas sem dúvida que a estreia a salientar em outubro é a obra premiada com o Urso de Prata de melhor realizador no festival de Berlim: O Outro Lado da Esperança de Aki Kaurismäki  é considerada  por muitos o melhor filme do ano. O tema é atual e pertinente  pois  debruça-se sobre a situação de um refugiado sírio que procura reconstruir a sua vida em Helsinquia onde a sua presença provoca reações contraditórias pois, embora seja  apoiado por alguns elementos da comunidade,  também é atacado por outros. No meio de situações humorísticas e dramáticas do quotidiano o que transparece nesta emotiva obra é que ainda é possível ter esperança na humanidade.

Em Amor de Improviso, Michael Showalter trata com humor factos reais envolvendo a vida pessoal do comediante paquistanês Kumail Nanjiani, autor do argumento, sobre o período em que conheceu a sua mulher e de que forma é que conseguiram manter o relacionamento apesar do mesmo não ser aceite pela sua família tradicional. Igualmente sobre ambientes familiares temos o simpático Castelo de vidro de Destin Cretton, baseado na autobiografia da jornalista Jeannette Walls e na sua problemática infância no seio de uma família disfuncional, sendo este testemunho uma forma da jornalista se reconciliar com o seu passado instável. O papel dos laços familiares também está presente em Aquilo que nos une de Cédric Kllapisch, a história de uma família  vinícola  a debater-se  com a continuação do negócio e o futuro da herança familiar. O filme embora apresente as tensões resultantes da indefinição no que respeita às decisões a tomar é uma forma de enaltecer a união e o legado familiar associado, neste caso, à terra.

Um filme de qualidade que junta ação, suspense e questões políticas, O estrangeiro de Martin Campbell, apresenta Jackie Chan numa boa interpretação de um pai desesperado pela morte da filha num atentado terrorista e que se transforma num homem sedento de vingança  na  busca dos  responsáveis pelo ato criminoso. Sobre um tema sempre actual e que envolve várias gerações de emigrantes, Todos os sonhos do mundo de Laurence Ferreira Barbosa aborda a vida dos portugueses emigrados em França, descrevendo a realidade de uma geração de luso-descendentes na procura de identidade e dividida entre duas culturas.

Por fim, um filme que esperemos que não seja premonitório, Geostorm – Ameaça global de Dean Devlin, para os que apreciam obras em que ficção científica, relata-nos situações catastróficas que põem em causa a segurança do planeta.

Termino relembrando que Cineclube Impala Cine, da Associação Gandaia, no Auditório da Costa de Caparica continua os ciclos de cinema, sendo o do mês de novembro, dedicado ao tema «No despertar do Sonho Americano», o que representa uma oportunidade para rever obras de qualidade às quintas-feiras às 21:00 horas.

Luísa Oliveira

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Setembro marca o início das atividades letivas e a continuação da divulgação das estreias nacionais cinematográficas. Começo com um filme dirigido ao grande número de fãs de Jennifer Lawrence, o sombrio e misterioso Mãe, de Darren Aronofsky,  em que  interpreta  uma  mulher frustrada  de um escritor, representado por Javier Bardem, cuja suposta tranquilidade é alterada com a chegada de um casal à sua habitação. É um filme delirante e alucinante que tem dividido a crítica pois não há consenso na análise do mesmo, ao contrário de  It de Andy Muschietti,  adaptação  do romance  homónimo de Stephen King.  Esta obra, que se enquadra no género de terror, revela não só as inquietações próprias das  relações entre gerações  como também os medos das crianças na figura do palhaço assassino Pennywise. Esta película registou a melhor estreia do género e como continua a ser um sucesso de bilheteira está prevista a  sequela em 2019 .

Kathryn Bigelow, a primeira mulher a receber um Óscar  na categoria de realizadora,  volta a surpreender com uma excelente  obra  sobre acontecimentos críticos  nos  EUA, neste caso, os motins de 1967  em  Detroit. Assim, volta a problematiza os valores identitários americanos com factos ocorridos num período de grande instabilidade política e social, marcado pela guerra do Vietname, pela repressão policial, descriminação racial e luta pelos direitos civis. A apresentação dos acontecimentos que abalaram a cidade de Detroit nesse período e a forma como o disparo acidental de uma pistola de pólvora seca num motel da cidade se torna o pretexto para uma brutal repressão policial por parte de agentes brancos sobre afroamericanos  demonstra bem  a realidade da época  marcada por  fortes disparidade raciais em todos os setores.

A filmografia francesa continua presente, neste caso, com Um Rico Sovina de Fred Cavayé , uma  comédia popular francesa em que sobressai   o  trabalho de composição do humorista Dany Boon. Igualmente no género comédia, mas aliada à ação a adaptação da banda desenhada de Mark Millar e Dave Gibbons, temos o segundo capítulo  do  filme de espionagem  Kingsman: O Círculo Dourado  de Matthew Vaughn  com um elenco de luxo em que sobressaem Colin Firth, Julianne Moore, Jeff Bridges e a presença exuberante  e música de  Elton John.

Também agradável Era uma vez  em Los Angeles de  Mark Cullen é uma comédia ligeira  que cumpre a função de distração, com Bruce Willis  no papel de um detetive que se envolve em inúmeras peripécias  para recuperar o seu cão Buddy raptado por um gangue ligado ao tráfico de droga.

Já no género melodrama,  Reviver o passado em Montauk, com o veterano ator  alemão Volker Schlöndorff  como  realizador,  baseia-se no  argumento escrito pelo irlandês Colm Tóibín. Com diálogos em que o silêncio impera, salientam-se as brilhantes interpretações do sueco Stellan Skarsgard e da alemã Nina Hoss.

Os admiradores de obras envolvendo figuras históricas, por seu turno, devem apreciar Vitória & Abdul de Stephen Frears, uma interessante obra sobre o período final do reinado da emblemática rainha britânica que marcou uma época. A veterana Judi Dench volta a encarnar a personagem de rainha Vitória numa obra baseada em factos reais  sobre a relação de amizade que manteve desde 1887 até à sua morte em 1901 com o jovem indiano, funcionário  na corte, Abdul Karim, interpretado por Ali Fazal.

De Moçambique chegou Comboio de sal e açúcar de Lícinio Azevedo, adaptação do romance homónimo do realizador, que retrata os trágicos acontecimentos verídicos  ocorridos em 1988 durante o período terrível da guerra civil.

Por fim, importa referir a interessante obra portuguesa A fábrica do nada de Pedro Pinho, galardoada com os prémios FIPRESCI do festival de Cannes e o Cinevision no festival de cinema de Munique. Com interpretações de atores e não atores, a equipa de realização inspirou-se em situações reais de uma zona industrial com o encerramento de fábricas e consequente desemprego de muitos operários. Representa uma reflexão sobre o valor do trabalho num período de crise socioeconómica, pois o argumento segue a vida de um grupo de operários que tentam segurar os postos de trabalho, através de uma solução de autogestão coletiva e evitar assim o encerramento de uma fábrica.

Termino relembrando que o mês de outubro está associado a bons documentários, pois  a 15ª edição do Doc Lisboa decorre de 19 a 29 outubro com um programa aliciante que pode ser consultado  em  www.doclisboa.org.

Luísa Oliveira

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No mês de maio o mundo cinematográfico esteve concentrado nos acontecimentos ligados ao festival de Cannes que decorreu com o glamour habitual. No vasto leque de prémios atribuídos os portugueses também foram contemplados pois o realizador Pedro Pinho venceu o Prémio FIPRESCI, da Federação Internacional de Críticos de Cinema, pelo filme ‘A fábrica de nada’, estreado na Quinzena de Realizadores, secção paralela ao festival. Esta obra, interpretada por atores e não atores, segue a vida de um grupo de operários que tentam manter os seus locais de trabalho e evitar o encerramento da fábrica através de uma solução de autogestão coletiva.

Quanto a estreias em maio abrangeram vários géneros mas a referência especial vai para o belíssimo filme do suíço Claude Barras, um dos nomeados para o Óscar de melhor longa metragem de animação, A Minha Vida de Courgette que, utilizando as técnicas de manipulação de pequenos bonequinhos (“stop motion”), apresenta um emocionante e comovente retrato de um órfão que, na instituição onde vive, vai aprender o que significa estabelecer uma relação humana. Outra obra de animação, a primeira em 3D produzida pela equipa da TO Studio de Paris, Amarelinho, de Christian De Vita, tem como base de argumento as migrações de ave pelo que além de ser muito educativo também transmite uma mensagem sobre força de vontade e superação individual.

Os enredos ligados à 2ª guerra mundial, por seu turno, continuam a originar boas obras como é o caso da produção norueguesa A escolha do rei de Erik Poppe sobre a opção do rei Haakon da Noruega perante o ultimato dos alemães em abril de 1940. É uma obra importante pois demonstra como é determinante o papel de líderes honestos e corajosos na tomada de decisões em épocas cruciais para as nações. Ainda sobre a mesma época mas, neste caso, apresentando o contributo da população civil para mitigar os efeitos negativos do conflito, temos Heróis da nação da realizadora dinamarquesa Lone Scherfig, uma adaptação do best-seller de 2009 “Their Finest Hour and a Half”, da escritora inglesa Lissa Evans. Realça o esforço de mulheres nomeadamente na realização dos filmes de propaganda ingleses que contribuíram não só para levantar o moral das populações durante o Blitzkriegg, quando a Inglaterra estava na iminência de ser invadida pelos exércitos nazis, como também serviram para convencer os norte-americanos a entrarem no conflito.

Os argumentos de ação e aventura foram a base em várias películas como A Cidade  Perdida de Z  de James Gray,  história verídica do explorador e aventureiro inglês Percy Fawcett , que viaja ate à Amazónia no início do século XX e descobre provas de uma avançada civilização até então desconhecida, que terá habitado a região. Como a comunidade científica não aceita esta suposta descoberta, o obcecado explorador  retorna à região desaparecendo misteriosamente  em 1925.  Outra aventura mas, neste caso, no alto-mar, Pirata das Caraíbas: homens mortos não contam histórias de Joaquim Ronning e Espen Sandberg,  é a quinta película  da  lucrativa saga  da Disney com um  orçamento  record da história do cinema  no valor  de 320 milhões de dólares continuando a apresentar Johnny Depp como protagonista  no papel do carismático pirata Jack Sparrow.

Ridley Scott retoma o terror associado  à ficção científica  em  Alien: Covenant que certamente será do agrado de imensos cinéfilos que têm como culto a saga Alien. Igualmente os que preferem cenas com personagens mais ou menos históricas interessam-se por Rei Artur – a lenda da espada de Guy Ritchie,  que retoma um tema já tratado em muitas obras sobre luta pelo poder. Num género diferente que associa suspense a terror, Foge de Jordan Peele é uma obra perturbante que utiliza a sátira racial  para focar a hipocrisia de determinados grupos sociais em relação à diversidade étnica. Apesar dos vários momentos assustadores e arrepiantes que o filme apresenta é uma  obra aconselhável pela crítica implícita à hipocrisia da sociedade atual  sobre questões ligadas ao racismo.

Por fim o emotivo O sentido do fim de Ritesh Batra, a partir da obra homónima de Julian Barnes,  apresenta um conjunto de atores consagrados como Charlotte Rampling e Jim Broadbent  o que garante boas interpretações  num drama passado em duas épocas distintas sobre as consequências de determinadas escolhas de vida.

Luísa Oliveira

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