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Archive for Novembro, 2019

Quem sou eu?

Caminho há três dias para o norte de França, onde dizem que os alemães estão a preparar um ataque direto a Paris. Fui recrutado pelo exército português contra a minha vontade mas, para ser sincero, até gosto da adrenalina da guerra. Sinto-me apenas mais um soldado, todos os meus problemas exteriores são irrelevantes, basta um milésimo de segundo e esses problemas perdem o significado. Estou num pelotão composto por dezasseis mil soldados todos iguais, todos valem o mesmo no meio desta guerra.

E assim Joaquim Leão caminha para a sua última batalha, de certa forma, ele é parecido comigo. Talvez pela sua consciência de não ser nenhum herói ou por saber que vale exatamente o mesmo que os outros. Obviamente o que Joaquim sente durante esta viagem é algo que eu não sinto. Talvez tu o consigas sentir, ou talvez eu descreva tão bem que o consigas sentir e, se não conseguires, faz como eu, finge que o sentes.

Desculpa, mãe, se estiveres a ler isto, significa que fiz o ato mais cobarde da história da humanidade mas não consigo viver comigo mesmo após o que ouvi, o que vi, o que fiz…

Desculpa pai, por te desonrar assim desta forma, mas matei um aliado. Juro que foi sem querer mas o que é certo é que o vi gritar de pânico enquanto morria lentamente.

E para ti, minha querida amada, desculpa não puder ver o nosso filho nascer, crescer, casar… mas a guerra é pior do que o diabo consegue imaginar. Nem sequer conseguimos distinguir um fiel aliado português de um alemão. Quando invadiram a nossa trincheira, havia tanto sangue, tanto pó, tanta confusão que apenas disparei. Quando me apercebi em quem tinha acertado fiquei paralisado e depois gritei de desespero, mas o meu grito foi abafado pelo som do que pareciam mil armas. Agarrei no corpo do soldado cujo nome ainda não sei, nem irei saber, e vi-o gritar de sofrimento, chorar e exclamar repetidamente “eu não quero morrer”, até que a sua voz parou de se ouvir e a sua alma foi entregue a Deus cedo demais.

Desculpem, mas não consigo viver sabendo que tirei essa oportunidade a outro homem.

Talvez Leão não seja de facto assim tão parecido comigo. O suicídio parece algo precipitado e pouco racional. Talvez o facto de ter assassinado o seu parceiro tenha sido um acontecimento tão forte que a sua consciência morreu com o parceiro e passou a reinar os sentimentos. Será que é essa a cura?

Volto a perguntar, quem sou eu?

Ass: Eu

Henrique Silva, 12ºB

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Escolhi este quadro do pintor Carlos Botelho, autor influenciado pelo modernismo, corrente artística marcada pela quebra dos padrões tradicionais.

Nesta obra está representado Fernando Pessoa. Observando o quadro, é notória a utilização de apenas três cores: vermelho, branco e preto. Por um lado, esta simplicidade cromática retrata a vida modesta e despojada do poeta. Por outro, contrasta com a complexidade da sua ideologia e reflexões.

Tendo esta obra sido produzida no Modernismo, é possível reconhecer algumas características representativas desse período, como é o caso da velocidade: as pinceladas rápidas e soltas dão uma sensação de movimento feroz. Este movimento poderá ser metafórico, estando associado à inquietação e desassossego do estado de espírito do próprio Fernando Pessoa.

A sensação de movimento foi também representada nesta obra pela pouca delimitação do rosto do poeta. Para além da ideia de movimento, o facto de o rosto não estar bem nítido, com linhas definidas, sugere a incerteza do poeta acerca da própria identidade. Fernando Pessoa não sabia quem era: Não sei quem sou, que alma tenho.[1]

O poeta sentia que era “vários” ao mesmo tempo, criando os tão conhecidos heterónimos (desdobramento da sua personalidade), levando-o a sentir o mundo e a poesia de diferentes modos, destacando-se Álvaro de Campos, engenheiro pessimista com o gosto pelo progresso, mas angustiado com o presente – Não sou nada./Nunca serei nada./Não posso querer ser nada [2]Alberto Caeiro, apaixonado pela Natureza – Além disso, fui o único poeta da Natureza [3] e Ricardo Reis, que gosta da simplicidade tradicional – Segue o teu destino,/Rega as tuas plantas,/Ama as tuas rosas.[4]

Assim, pode concluir-se que a imagem não representa um só indivíduo, mas antes, a reunião em si de todos os aspetos da extensa obra e da grande personalidade que foi Fernando Pessoa.

 

 Sara Boisseau, 12ºB

 

  • [1]  “Não sei quem sou, que alma tenho”, Fernando Pessoa
  • [2]Tabacaria”, Álvaro de Campos
  • [3]Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia”, Alberto Caeiro
  • [4] “Segue o teu destino”, Ricardo Reis

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Com a colaboração da professora Ana Guerreiro (EV) e, em especial, de alunos do 9º B – Gonçalo e Margarida – e do 9º E – GuilhermeMariana e Lucas – foi criado na Biblioteca da ESDS um mural alusivo às temáticas do “Dia das Bruxas”. Alunos cheios de talento e inspiradíssimos criaram, através do desenho e da ilustração, imagens que atormentam todos os que batem com os olhos no balcão da Biblioteca.
Visita esta criação e entra na temática das “Coisas Misteriosas” escolhendo um dos livros que temos ao teu dispor.
A Equipa da Biblioteca agradece a todos os que colaboraram na concretização da iniciativa.
Dulce Sousa

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