Escolhi este quadro do pintor Carlos Botelho, autor influenciado pelo modernismo, corrente artística marcada pela quebra dos padrões tradicionais.
Nesta obra está representado Fernando Pessoa. Observando o quadro, é notória a utilização de apenas três cores: vermelho, branco e preto. Por um lado, esta simplicidade cromática retrata a vida modesta e despojada do poeta. Por outro, contrasta com a complexidade da sua ideologia e reflexões.
Tendo esta obra sido produzida no Modernismo, é possível reconhecer algumas características representativas desse período, como é o caso da velocidade: as pinceladas rápidas e soltas dão uma sensação de movimento feroz. Este movimento poderá ser metafórico, estando associado à inquietação e desassossego do estado de espírito do próprio Fernando Pessoa.
A sensação de movimento foi também representada nesta obra pela pouca delimitação do rosto do poeta. Para além da ideia de movimento, o facto de o rosto não estar bem nítido, com linhas definidas, sugere a incerteza do poeta acerca da própria identidade. Fernando Pessoa não sabia quem era: Não sei quem sou, que alma tenho.[1]
O poeta sentia que era “vários” ao mesmo tempo, criando os tão conhecidos heterónimos (desdobramento da sua personalidade), levando-o a sentir o mundo e a poesia de diferentes modos, destacando-se Álvaro de Campos, engenheiro pessimista com o gosto pelo progresso, mas angustiado com o presente – Não sou nada./Nunca serei nada./Não posso querer ser nada [2]– Alberto Caeiro, apaixonado pela Natureza – Além disso, fui o único poeta da Natureza [3]– e Ricardo Reis, que gosta da simplicidade tradicional – Segue o teu destino,/Rega as tuas plantas,/Ama as tuas rosas.[4]
Assim, pode concluir-se que a imagem não representa um só indivíduo, mas antes, a reunião em si de todos os aspetos da extensa obra e da grande personalidade que foi Fernando Pessoa.
Sara Boisseau, 12ºB
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