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Posts Tagged ‘Fragmentação’

vasoEsta imagem relaciona-se com a obra de Fernando Pessoa e também com Pessoa como pessoa, na medida em que a sua alma se fragmentou  em mais pedaços do que a totalidade de barro que havia no vaso (identificando-se com o poema Apontamento de Álvaro de Campos). Não obstante o sofrimento da perda de identidade, Fernando Pessoa teve a capacidade de interligar os seus fragmentos e a partir deles dar vida à sua obra, quer como Pessoa ortónimo, quer com os seus heterónimos.

A alma de Pessoa partiu-se como um vaso vazio, mas ao longo do tempo reconstruiu-a próprios cacos: quer Pessoa quer o sujeito poético de Apontamento tinha mais sensações, quando a alma se encontrava fragmentada do que quando era um todo.

Mas, no fim de contas, a ‘imperfeição’ do não-todo de Pessoa, tornou-o único e versátil, capaz de deixar florescer diferentes tipos de pessoas dentro do mesmo vaso, da sua ‘’obra principal’’, e do próprio Fernando.

‘’Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas. / Um caco brilha, /e os deuses olham-no especialmente / pois não sabem porque ficou ali.’’ Este caco reúne um conjunto de fragmentos aglomerados num só, que o levam a um todo, imperfeito, mas no fim de contas completo; por isso chamou a atenção dos deuses.

A dimensão simbólica da escada, composta pelos pequenos fragmentos do vaso na imagem simboliza a caminhada da vida, normalmente ascendente e progressiva. Mas em Campos e também em Pessoa (poeta) esta caminhada que se quer também ascendente, pois corresponde à procura de si mesmo e ao desejo do impossível, acaba por ser descendente, pelo custo de perda de unidade que comporta – uma perda desejada, mas ainda assim por se transformar em perda. No entanto, e paradoxalmente, no poema Apontamento, a escada conduz ao infinito, sugerido pelas estrelas que o atapetam e pelos astros entre os quais os fragmentos brilham.

E eu não poderia concordar mais com este ponto de vista, porque os fragmentos da alma de Pessoa acabaram por levá-lo a uma unidade que interliga todos os cacos entre si, ou seja, os vários cacos acabam por formar um todo, e esse todo é o grande vaso, é Pessoa, que comporta várias pessoas dentro de uma pessoa só.

Lisandra, 12º. C

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