Há algo neste quadro que logo me desperta uma emoção. Alegria. A simpleza da paisagem e o seu tom quente e acolhedor, presumo, estão na origem do problema. Problema porque logo, logo, começo a pensar “porquê?”. Porquê esta emoção? Será que imagino alguma memória inexistente na qual me embrenho, confundindo os indistinguíveis sonho e realidade? Ou será que imagino uma simples canção, talvez, ecoando ondeante no pensamento, como um “comboio de corda”? E mais importante, ao contrário de Fernando Pessoa, será que esta alegria me durará? Acho que já falhei.
É a resposta a que Fernando Pessoa chega – quando se pensa, não se sente. A emoção é algo espontâneo. Porque é ao observarmos mais de perto algo, que começamos a reparar em pormenores que logo desfazem a imagem no seu contexto total. Apercebemo-nos de todas as pequenas imperfeições, que rasgam, ferozmente, as emoções antes sentidas.
Esta pintura de Van Gogh, “Moisson en Provence”, por exemplo, observada com uma consciência nula, faz-nos sentir felicidade: a paz do campo e as cores provincianas sossegadas; a moleza do quente, e das férias. Mas é procurando ao fundo, lá bem longe, já conscientes, que percebemos umas manchas esbatidas de tristeza e frio.
É a essas manchas que Fernando Pessoa chega, seja qual for o caminho que toma para tentar alcançar a inalcançável alegria, por não ser capaz de deixar de pensar. Aliás, pensa tanto que já nem sabe bem quem é. Já não se reconhece – “Eu vejo-me e estou sem mim, / Conheço-me e não sou eu.” – nem reconhece quem foi – “Se quem fui é enigma”.
Pessoa fica, assim, preso num abismo eterno, vendo por vezes momentaneamente a luz da alegria, desfeita em seguida, desejando a cada momento que pare de pensar, e sinta “Isto” no seu coração.
Guilherme Dias, 12ºC
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