Na sequência do estudo do universo de Pessoa, os alunos do 12ºA realizaram uma atividade de escrita em que lhes era pedido que escolhessem uma imagem-metáfora de um tema selecionado por eles nesse universo fragmentário do poeta: um heterónimo, uma linha temática, um poema… associando a imagem, sem cair no nível meramente descritivo, ao tema escolhido.
Publicados todos os textos no Moodle da disciplina, os próprios alunos votaram anonimamente no que, pela criatividade, rigor e qualidade de expressão, gostaram mais. Depois de uma votação onde teve lugar uma segunda volta para o desempate, aqui fica o que ganhou o 1º lugar, com direito a um livro com a obra heterónima de Pessoa como prémio. Em breve, os outros textos premiados, assim como as menções honrosas, serão igualmente alvo de publicação aqui no Bibli.
Fernando Rebelo (professor de Português)
Ricardo Reis e a Inevitabilidade da Morte
Dos três heterónimos de Fernando Pessoa estudados, Ricardo Reis foi aquele que despertou em mim maior interesse, pelo facto de ambos recearmos a morte.
Este heterónimo de Pessoa admira a calma e serenidade com que Aberto Caeiro, o seu mestre, encara a vida e tenta alcançar essa paz de alma e equilíbrio através da autodisciplina e do Epicurismo e Estoicismo, duas doutrinas gregas.
Reis, admitindo que a morte é uma coisa inevitável e que é a única certeza que temos na vida, tenta levar uma vida o mais calma e equilibrada possível, evitando qualquer tipo de sofrimento, não cedendo aos impulsos dos seus instintos (epicurismo) e mostrando-se indiferente às paixões. Ele acredita que não vale a pena envolver-se demasiado e deixar-se levar pelas suas emoções, pois tudo terá um fim e será mais fácil lidar e aceitar a morte se não tiver nada a perder (estoicismo).
A vida de Reis segue assim o seu percurso, de uma forma tranquila, um remo de cada vez. No entanto, ele não testa a água, não salta nela e se atreve a nadar; ele não corre esses riscos, e continua sentado na sua embarcação, focando-se apenas nas paisagens a seu redor e disfrutando dos pequenos prazeres do momento.
Porém, a morte está sempre presente em todos os aspetos da nossa vida, em qualquer coisa que façamos, quer se pense nela, quer se a ignore. Não lhe podemos escapar e nunca sabemos quando se vai manifestar. Paira sobre nós como uma sombra: presença indesejável e incessante do destino.
A efemeridade da vida pode conduzir qualquer um à loucura, mas Reis conseguiu desenvolver uma estratégia que lhe permitiu aceitar e viver conforme as leis do destino.
A vida/ Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa / Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado / Mais longe que os deuses. […] Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. / Mais vale saber passar silenciosamente / E sem desassossegos grandes.
Apesar de eu não conseguir concordar plenamente com a sua filosofia, admiro a sua força de vontade necessária para não ceder aos seus instintos e não se envolver demasiado com o intuito de evitar o sofrimento.
Elena Ostrovan, 12ºA
Fonte da imagem – Skull and gondola: http://metamythic.com/metamorphic-skull-illusions/
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