No rescaldo dos grandes prémios de cinema, sobressaem algumas estreias interessantes: A última vez que vi Macau, complementado com a curta- metragem Alvorada vermelha, ambas de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra de Mata, estrearam-se comercialmente ao mesmo tempo que foi noticiado que o primeiro foi selecionado, juntamente com As linhas de Wellington de Valerie Sarniento, para a 29ª edição do festival de Villeurbanne, França, na categoria de “reflexos do cinema ibérico e latino-americano”. A aguardada estreia de Comboio noturno para Lisboa, do dinamarquês Bille August, adaptação do romance homónimo de 2004 de Pascal Mercier, pseudónimo literário do filósofo Peter Bieri, trouxe a Lisboa realizador, escritor e os atores Jeremy Irons e Christopher Lee de uma obra que tem o mérito de divulgar a capital a nível turístico.
De Espanha chega-nos o filme mudo e a preto e branco, adaptação do famoso conto dos irmãos Grimm com argumento e realização de Pablo Berger, Branca de Neve, o grande vencedor dos Prémios Goya, arrecandando 10 estatuetas. Coincidindo com a realização do Fantasporto estreou-se o sucesso de bilheteira, Mamã, do realizador argentino Andrés Muschietti, uma coprodução hispano-canadiana de Guillermo del Toro, que venceu os prémios de melhor filme, melhor realizador e melhor actriz (Jessica Chastain) na secção de Cinema Fantástico da 33ª edição daquele festival. Neste emblemático evento na longa lista dos galardões atribuídos merece destaque o Prémio Carreira, atribuído ao realizador português António de Macedo e a homenagem a Manoel de Oliveira, na passagem dos 70 anos sobre a estreia de Aniki-Bóbó (1942). Na secção exclusivamente dedicada ao Cinema Português, foi distinguido o documentário de Luís Moya, Mia Mia Sudan Tamam Tamam, sobre o povo do Sudão e Restart, trabalho coletivo do Instituto de Criatividade, Artes e Novas Tecnologias, de Lisboa (Prémio Escolas de Cinema).
Igualmente aguardado com expetativa Oz – O grande e poderoso de Sam Raimi que, apesar da grandeza que os meios técnicos proporcionam, não consegue suplantar a magia do clássico de 1932 realizado por Victor Fleming. Referência, de igual modo, para as seguintes estreias: o comovente drama franco-belga Ferrugem e Osso com argumento e realização de Jacques Audiard e excelentes interpretações de Marion Cotlliard e Mathias Schoenaerts; a animação para todas as idades de Os croods de Chris Sanders e Kirk DeMicco e As fantásticas aventuras de TAD de Enrique Gato; o argumento divertido e absurdo de Sete psicopatas de Martin Mcdonagh e a descontração de Robô e Frank de Jack Shreir; da Dinamarca o drama histórico Um caso real de Nikolaj Arcel, nomeado para o Óscar de melhor filme estrangeiro e que relata os factos verídicos ocorridos no reinado de Christian VII, no século XVIII, que vão contribuir para a implantação dos ideais iluministas, e ainda, o perturbante e intenso, A caça de Thomas Vinterberg. Por fim, Terra prometida de Gus Van Sant com Matt Damon como ator, co-argumentista e produtor e um elenco de luxo num belo filme de mensagem e de confronto entre o dinheiro e a tradição.
Como prova do reconhecimento da qualidade da cinematografia nacional, o realizador Miguel Lopes vai presidir à Semana de Crítica do festival de Cannes 2013. A longa-metragem do realizador português João Canijo Sangue do meu sangue volta a ser distinguida a nível internacional tendo, desta vez, sido distinguida com o grande prémio do Festival Cinema Mundi, na República Checa. Quanto a eventos nacionais, a 10ª edição do Indielisboa, festival internacional de cinema independente, realiza-se de 18 a 28 abril e, contrariando a crise, apresenta 250 filmes estrangeiros e portugueses na Culturgest, cinemas São Jorge e City Alvalade e Cinemateca, revelando-se mais uma oportunidade para apreciarmos uma diversidade de obras.
Relembro que continua, no bar Bicaense, o ShortcutzLisboa, movimento internacional de curtas metragens, com a exibição, às 3ª feiras, de três curtas metragens, sendo uma convidada e as outras duas em competição para a melhor do mês e sempre com a presença de personalidades do meio cinematográfico. Na Casa da América Latina, de abril a outubro, são apresentados documentários para dar a conhecer escritores da literatura latino-americana numa iniciativa denominada “Escritores en primera persona”. Num período em que o país é apresentado como o que perdeu mais espetadores de cinema, no ano transato, conforme informação do Observatório Europeu do Visual, estas iniciativas representam um estímulo para os apreciadores da 7ª arte.
Luísa Oliveira
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