F., Christiane (1983), Os Filhos da Droga, Lisboa, Círculo de Leitores, 7ª edição
Aconselharam-me vários livros para o meu contrato de leitura. Este foi um deles, Os Filhos da Droga. Achei o título interessante assim que o vi e fiquei curiosa em saber mais.
O livro é uma autobiografia de Christiane Vera Felscherinow. Ao longo da história, Christiane esteve constantemente a tentar adaptar-se a novos lugares e situações, conseguindo fazer parte dos grupos aos quais aspirava.
A sua história começa então aos 6 anos quando se muda para Berlim. Aí tudo o que era divertido era proibido e em casa instalou-se um mau ambiente familiar, em que o pai utilizava a violência contra a mãe, a irmã e ela própria independentemente do que fizessem. Assim, Christiane começou a ver o mundo de uma forma distorcida: acreditava que a maneira certa para obter respeito era através do poder e da força. Os seus pais acabaram por se divorciar.
Aos 12 anos passa a frequentar um clube de jovens chamado Casa do Centro. Aí experimentou pela primeira vez drogas leves como haxixe e mesmo LSD. Mais tarde, começou a ir à Sound, uma discoteca onde se consumia todo o tipo de drogas e onde acabou por conhecer Detlef, que se tornou seu namorado após ela ter experimentado heroína, justificando a sua opção a Detlef ao dizer que queria sentir o mesmo que ele.
A passagem que escolhi é precisamente de quando ela experimentou heroína, pois reflete bem o que os drogados sentem e porque a entrada nas drogas duras foi um acontecimento marcante na sua vida e o início da sua desgraça.
Eu estava excitadíssima por pensar que ia experimentar aquela droga forte. Não refletia nem sentia remorsos. Queria experimentar, para voltar a sentir-me bem drogada uma vez mais. Tinha medo de me injetar, de maneira que disse:
– Não quero picar-me. Vou cheirar.
(…) Era como se os braços e as pernas fossem ao mesmo tempo muito pesados extraordinariamente leves. Sentia-me muito cansada, o que me produzia uma excitação intensa. Todos os meus males desapareceram de repente. Acabou-se «It is too late». Senti-me melhor do que nunca.
Para sustentar o vício, Christiane passa assim a prostituir-se na Estação do Zoo, tal como o seu namorado.
Com o decorrer do tempo, Christiane vê um cenário de morte à sua volta e tenta mudar o seu destino com várias tentativas de desintoxicação, mas o vício era mais forte. Acabou por ser presa e mandada para casa da sua avó, longe de Berlim. Porém, Christiane não consegue deixar as drogas.
Esta obra retrata a decadência do ser humano, a necessidade de afirmação e integração. Achei-a muito marcante, ajudando-me a perceber a verdadeira razão pelo qual as pessoas, muitas delas informadas, começam a consumir drogas. Aprendi também porque é que as drogas causam dependência, como é que os drogados se sentem e o ambiente repugnante em que se envolvem. Não é muito difícil entrar neste mundo, mas sair é muito mais complicado. Apesar de uma pessoa ter escolha, raramente a razão prevalece.
Aconselho o livro vivamente, pois trata um tema atual, apesar da história se passar nos anos 70, que nos permite refletir sobre o significado da vida e o que é realmente importante.
Miriam Colaço, 10ºC
imagem de Christiane Vera Felscherinow daqui
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