NAVARRO, Júlia (2007), O Sangue dos Inocentes, Gótica, Lisboa (disponível na BE – cota: 821.1/9.9. NAV)
No seguimento do texto que escrevi sobre Viagem ao mundo da droga, inserido na rubrica O Livro da Minha Vida, e porque na minha vida há lugar para mais do que um livro, escrevo agora, e mais uma vez para tentar aliciar cada vez mais possíveis leitores, sobre uma outra obra que considerei digna de nota.
Uma das coisas que mais me agrada num livro é a facilidade com que viajo dentro dele. Transporto–me no espaço e no tempo, deixo-me levar e quando dou por mim …estou lá. Assim aconteceu com este O Sangue dos Inocentes. Mergulhei nas histórias da História, como se conseguisse viver em cada século retratado no livro, tentando, eu mesma, encontrar respostas para as dúvidas que nos surgem ao longo da obra e do tempo.
“ Sou espião e tenho medo…”. É Frei Julián quem o escreve no início desta crónica, em pleno Séc XIII. Um relato quase real do cerco a Montségur, uma luta cruel entre cátaros e católicos. Em nome da religião, de uma crença cega se mata e se morre.
Séculos mais tarde, em 1939, num outro cenário de guerra, um agnóstico, em plena Berlim hitleriana, inicia uma busca perigosa pela mulher, de origem judaica, no contexto da perseguição sem tréguas, onde mais uma vez o fanatismo desmedido e a intolerância voltaram a fazer derramar sangue inocente.
Já na atualidade, um grupo de muçulmanos radicais imola-se em Frankfurt, deixando uma mensagem que provoca um forte alerta no Centro Antiterrorista da Europa. Sejam quais forem as motivações reais, o radicalismo e o fanatismo não se condoem com que quer que encontrem pela frente. “Um herói pode não ter sequer idade, mas o amor à causa é-lhe tão precocemente instigado, que o sangue mais inocente é aquele que mais serve a causa”.
Esta é pois uma obra transversal no tempo e no espaço, intensa e real, marcante e chocante! Várias histórias numa só história onde o medo e a coragem se confundem, mas onde, sobretudo a convicção impera, a crença domina, converte, cega e aliena! Ontem, como hoje, se derrama o sangue inocente, em nome de um idealismo alucinado e fanatizado, perpetuado através dos tempos. Uma obra que nos leva a questionar os nossos próprios valores. Aquilo em que sempre acreditámos será ou não credível? Valerá ou não a pena acreditar? Será o ser humano capaz de encontrar a ténue fronteira entre o certo e o errado?
Um livro histórico e atual, que liga de forma brilhante três épocas da história da humanidade, mostrando-nos como ao longo dos séculos a intolerância nunca deixou vingar a paz entre os homens. Fica-nos no entanto a convicção de que um dia, não importa quando, será vingado o sangue dos inocentes!
Vale mesmo a pena ler este livro!
Fernanda Peralta
imagem daqui
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